Morre Marta Vannucci, precursora da oceanografia brasileira

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Morre Marta Vannucci, precursora da oceanografia brasileira | CicloVivo

A bióloga Marta Vannucci, uma das fundadoras do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), morreu na última sexta-feira (15), em São Paulo, aos 99 anos. Foi a primeira mulher membro titular da Academia Brasileira de Ciências.

“A professora Marta teve um papel fundamental na formação do Instituto Oceanográfico da USP e na conquista do nosso primeiro navio científico, o oceanográfico Professor W. Besnard. Foi também a primeira mulher a dirigir o nosso instituto”, disse Elisabete de Santis Braga da Graça Saraiva, diretora do IOUSP, à Agência FAPESP.

Nascida em Florença, em 10 de maio de 1921, emigrou para o Brasil em 1927 com a ascensão do fascismo na Itália. Opositor de Benito Mussolini, o pai de Vannucci era médico e livre-docente nas universidades de Pádua e de Florença. No Brasil, foi cirurgião no Hospital Matarazzo e faleceu em 1937 devido a uma infecção contraída em uma cirurgia. “Se meu pai tivesse vivido, eu provavelmente teria feito medicina e trabalhado com ele. Quem realmente formou minha alma de cientista foi meu pai”, disse Vannucci em entrevista a Academia Brasileira de Letras, em 1993.

Cursou o ensino fundamental no Colégio Dante Alighieri e ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Em 1944, defendeu o doutorado com orientação de Ernest Marcus, professor do Departamento de Zoologia, tendo sido sua assistente de 1944 a 1950.

Foi convidada a fazer parte do Instituto Paulista de Oceanografia, ligado à Secretaria de Agricultura e fundado em 1946. Com o professor Wladimir Besnard e outros pesquisadores, conseguiu que o instituto fosse integrado pela USP como unidade de pesquisa, o que ocorreu em 1951. “Ela teve um papel fundamental nas discussões políticas e em fazer com que as autoridades reconhecessem a importância da oceanografia para o Brasil”, disse Saraiva.

No IOUSP, Besnard, então diretor, concentrava seus estudos na região de Cananeia, rica em mangues, o que deu a Vannucci a oportunidade de se especializar em ecossistema de mangues. Publicou mais de 100 trabalhos científicos sobre mangues.

Em 1956, recebeu uma bolsa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para conduzir pesquisas na Estação de Biologia Marinha de Millport, na Escócia.

Marta Vannucci dirigiu o IOUSP de 1964 a 1969, tendo negociado a compra e acompanhado a construção do navio de pesquisas Professor Wladimir Besnard.

Na Unesco, implantou um programa de bolsas de estudo para estudantes latino-americanos. Morou na Índia, onde colaborou como coordenadora técnica para um programa de desenvolvimento e atuou na inspeção de ecossistemas costeiros e ricos de mangues.

Recebeu em 1996 a Ordem Nacional do Mérito Científico na classe Grã-Cruz. “Em 2019, tivemos a oportunidade de homenageá-la em uma cerimônia, quando ela lembrou de suas pesquisas e de seu trabalho incansável pela oceanografia brasileira”, disse Saraiva.

Marta Vannucci teve dois filhos, Érico e Dino. O Prêmio Érico Vannucci Mendes foi instituído por ela com o objetivo de reverenciar a memória do filho, estudioso da cultura brasileira, falecido em 1986. Concedido pelo CNPq, o prêmio tem como objetivo a preservação da memória nacional.

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