Caixões de Gana: arte em seu mais inusitado formato

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Quando você pensa que a arte africana contemporânea, com seu banho de inovação e criatividade, não podia ficar melhor, surge um novo e curiosíssimo estilo de criação. Quem já ouviu falar em caixões em forma de avião, lagosta, tênis ou até carro? Em Gana, na região da Grande Accra, a estilização de caixões é uma febre, considerada um símbolo emblemático da arte no país. Só na capital Accra, já são mais de duas dúzias de estúdios especializados espalhados pela cidade. E o número só não é maior, porque a fabricação da obra exige muita técnica, talento e conhecimento histórico – na maioria das vezes, passado de geração em geração flutuando entre as famílias de artesãos.

As primeiras formas dessa arte surgiram nos anos 50 e o grande responsável pela criação do novo gênero foi o carpinteiro Seth Kane Kwei. Ele sempre escutou de sua avó sobre suas curiosidades entorno do avião e sua fascinação pelo meio de transporte aéreo. Ela morreu sem ter a chance de viajar e para homenageá-la o jovem carpinteiro resolveu preparar um belo caixão em forma de avião. Mais do que um mimo, para ele era uma maneira de fazer com que sua avó fizesse a sua viagem para o outro mundo na forma sempre sonhada. Deste momento em diante, as encomendas e demandas não pararam mais e a arte se espalhou pelo país. Pescadores pediam por barcos, cultivadores por cebolas e por aí a arte se afirmou e o artesão foi se tornando cada vez mais um perito da área. Em 1960, os caixões figurativos já eram parte integrante da cultura local de funeral.

No entanto, não foi apenas a ideia altruísta de Kane Kwei a razão da fama dos caixões. Nas crenças religiosas locais, acredita-se na vida após a morte. Existe uma grande valorização do mundo posterior, que para eles, é uma continuação da vida na terra. Além disso, os mortos passam a ser um ícone dos valores tradicionais e são considerados como ancestrais, muito mais poderosos do que os seres vivos, capazes de influenciar a vida daqueles na terra. Valorizar e criar caixões elaborados para os funerais é assim uma forma de prestar homenagens e estimar a viagem entre um mundo e outro e garantir uma bela chegada para a próxima etapa da vida.

Hoje, o costume de simbolizar as profissões dos falecidos continua, mas as formas de caixões também podem ser escolhidas conforme o gosto pessoal: abacaxi, garrafa de Coca-Cola, celular e até nota de dinheiro! Certas formas, no entanto, como espadas, símbolos reais ou religiosos são reservados às pessoas que ocupem os respectivos cargos representados pelas insígnias. Outra forma comum e também carregada de valores culturais são os animais, que representam os totens de cada clã no qual apenas os chefes das famílias são autorizados a serem enterrados.

Feitos a partir da madeira da árvore local wawa, os caixões demoram de duas a seis semanas para serem produzidos, dependendo da complexidade da construção e nível de experiência dos carpinteiros. Não se utiliza nenhum tipo de auxílio eletrônico: é tudo feito à mão, do modo mais artesanal possível. Os carpinteiros artesãos trabalham sempre em grupo, junto a seus aprendizes, que levam para o futuro o legado de Kane Kwei. Sua oficina, ativa até hoje, é administrada pelos seus sobrinhos, os primeiros aprendizes do carpinteiro vanguarda. No estúdio, que leva o seu nome, é possível conferir o trabalho ao vivo e as belezas que envolvem a produção dessa curiosa arte. Um momento para encantar-se com a criatividade e o potencial da arte contemporânea de Gana.

 

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