A beleza e a simbologia do bambu na cultura Japonesa

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Existem muitas florestas de bambu espalhadas pelo Japão e seu uso é bastante extenso. Não só no Japão, como também em muitos países, o bambu é considerado uma planta nobre e sagrado. É símbolo da multiplicação e da generosidade, representando principalmente, a fortaleza de passar pelos ciclos da vida, assim como sua estrutura, sendo flexível, mas inquebrável; pois, apesar de sua delicada estrutura, o bambu se curva, flexiona, quase toca o chão, mas não se quebra. No Japão e na China acredita-se que seu tronco oco, serve de morada aos deuses.

Suas utilidades abastecem diversos setores da economia e da sobrevivência humana, através da alimentação, da produção do álcool, celulose, reflorestamento, artesanato, decoração, movelaria, estruturas, construções, conhecido desde a antiguidade por diferentes civilizações, a planta teve seu uso registrado na mais diversas situações, desde o cotidiano comum às artes.

Sendo uma das plantas que mais crescem e sempre em direção ao alto, simboliza o progresso e a evolução. Os bambus crescem juntos uns aos outros, o que também representa a força da união para transgredir os obstáculos. O bambu é uma planta e um símbolo tão onipresente na Ásia, que mais de mil espécies são encontradas.

Força, apesar da aparente delicadeza…

Apesar de sua delicada estrutura, o bambu é uma planta bastante resistente, devido suas raízes robustas e estável. Também é capaz de suportar intensos invernos e extremos verões, e consegue se manter em pé, sem ceder, mesmo após tufões ou terremotos devastadores, simbolizando a força e a resistência para suportar todas as adversidades da vida. De tal forma, as pessoas são orientadas, em caso de terremotos, à se abrigarem em bambuzais.

Como um símbolo de força e prosperidade, o bambu também é usado para afastar energias estagnadas.

Nos templos, a tradicional fonte de bambu “Tsukubai” (蹲踞), para o ritual de purificação, representa a pureza e o sagrado, pois a semente do bambu está ligada à fênix, frequentemente representada nas artes japonesas, que, segundo a crença, se alimenta apenas de sementes do bambu. Os brotos de bambu (Takenoko) também são usados há muito tempo na culinária, principalmente durante as refeições de Ano Novo, simbolizando sorte, fertilidade e prosperidade.

Sho Chiku Bai
Na cultura japonesa, “Sho Chiku Bai” é uma combinação auspiciosa do pinheiro que simboliza longevidade, do bambu representando a resiliência, e a ameixeira, vitalidade.

Bambu na Tradicional Arte Japonesa

Take (竹 | たけ)
O bambu está presente em muitos contos antigos do Japão, dentre tantos, o mais popular é “Taketori Monogatari” (竹取物語 | Conto do Cortador de Bambu), também conhecido como “Kaguya-Hime” (かぐや姫 | 赫映姫 | A Princesa Kaguya), a história conta sobre Kaguya, uma Princesa da Lua, encontrada dentro de um caule de bambu na Terra. Há também inúmeros poemas antigos retratando a beleza do bambu que se mantém sempre verde, mesmo em meio ao rigoroso Inverno, e sua singela melodia ao soprar dos ventos combinado à sua estética elegante.

Representado nas pinturas e xilogravuras (浮世絵 | Ukiyo-e), junto ao pinheiro e a ameixeira, o bambu faz parte dos tradicionais “Três Amigos do Inverno”, símbolo de firmeza, perseverança e resiliência. Sendo também um dos elementos indispensáveis dos jardins japoneses.

Nisaburo Ito (Sparrows and Bamboo)

A tradicional arte japonesa “Takezaiku” (竹細工 | Trabalho em bambu) é usada na decoração de arquiteturas, como janelas, paredes, cercas e canos de água (como “shishi-odoshi” (鹿威し) e, em objetos utilitários como leques, sombrinhas (wagasa), cestos de flores, pentes, recipientes para cozinhar, hashi (palitinhos) e colheres de chá (茶杓 | chashaku). Esses utensílios de chá estabeleceram uma arte em bambu distinta do estilo importado da China, as colheres eram esculpidas pelos próprios mestres do chá, que também lhe forneciam um nome poético. O bambu também foi utilizado na confecção de armas, como arco e flechas, lanças e “Shinai” (espada de bambu usada no Kendo, esgrima japonesa).

Shishi odoshi (鹿威し)Chashaku (茶杓)
Há uma grande variedade de instrumentos de sopro musicais feitos de bambu na cultura japonesa, como o “Hotchiku” (flauta), “Kagurabue” (flauta usada no teatro “Kagura”), “Komabue” (flauta da corte), “Minteki” (flauta), “Nohkan” (flauta de bambu de alta frequência utilizada no teatro Imperial Noh e Kabuki), “Ryūteki” (Usada no “Gagaku”, música clássica xintoísta associada à corte imperial. Diz-se que seu som representa os dragões que ascendem aos céus entre as luzes celestes e os seres terrenos), “Shakuhachi” (derivado da flauta de bambu chinesa) e “Shinobue” (flauta folclórica usada em Festivais).

“Take o tate ni waru to, massugu ni wareru tokoro kara” (竹を縦に割ると、まっすぐに割れるところから) essa expressão é usada para elogiar o caráter de uma pessoa, se traduz como “se você quebrar o bambu verticalmente, ele se quebrará reto”, representando alguém de natureza franca, personalidade sempre positiva e direta, com uma crença firme, sem insidiosidade ou curvatura no temperamento.

Kadomatsu: Arranjo Auspicioso de Ano Novo

Kadomatsu (門松)
Poucos dias após o Natal, os Tori (Portais) dos Santuários, assim como as entradas de casas, lojas e edifícios são decorados com “Kadomatsu” (門松), arranjo feito com pinheiro, ramos de ameixeira e bambu. É comum muitos japoneses colocarem esses arranjos em pares em frente de casas e empresas, simbolizando o feminino e o masculino. Esta decoração significa que a casa foi purificada, a fim de acolher os deuses ou os espíritos dos ancestrais. A tradição deriva da crença xintoísta de que espíritos residam em árvores. Além disso, a exibição de pinho que permanece verde mesmo no inverno, simboliza vida longa, e o bambu, que cresce reto e rapidamente, expressa o desejo de obter a virtude e força para superar as adversidades trazendo boas sorte para o ano que inicia.

Tanabata: Festival das Estrelas (七夕祭り)

Durante as festividades do “Tanabata Matsuri“, o bambu é um elemento essencial, faz parte das antigas tradições escrever seu desejo em um “Tanzaku” (短冊 | Tiras coloridas de papel) e pendurá-lo em uma haste de bambu na 7ª noite do 7º mês.
Acredita-se que o bambu, que se estende em direção aos céus, representa a conexão terrena com o plano divino, assim ao escrever seus desejos e pendurá-los aos ventos, estará os enviando para os deuses.

Festival das Lanternas de Bambu

Por todo território nipônico, ocorrem diverso festivais das lanternas de bambu, um dos mais populares é o “Festival das Lanternas de Bambu Takeo” (清水竹灯り) nas Cataratas de Kiyomizu (清水滝), que acontece durante a terceira semana de novembro. Milhares de lanternas de bambu iluminadas por velas criam uma atmosfera etérea no local. As lanternas são esculpidas à mão, e os desenhos tem diferentes formas e estilos, variando de tradicionais motivos japoneses à projetos completamente originais.
Outro famoso festival é o Hanatōro (花灯路, “Caminho de Luz e Flores”), um belíssimo Festival de Luz que acontece nos distritos de Higashiyama e Arashiyama em Kyoto. Durante o Matsuri, milhares de tradicionais lanternas combinadas às flores são colocadas nos Templos, Santuários e ao longo das estradas em áreas turísticas dos distritos. Entre suas maiores atrações estão a iluminação da Floresta de Bambu de Arashiyama.Ou seja, desde os primórdios, a beleza, força e resiliência representado pelo bambu estão presentes na vida dos homens além das fronteiras nipônicas, seja no cotidiano, em grandes obras das construções, ou nas artes.