As Bonecas Karajá

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As bonecas Karajá, denominadas na língua nativa ritxôkó (na fala feminina) e/ ou ritxó (na fala masculina), condensam e expressam importantes aspectos da identidade para o Povo Karajá (ou Iny), habitante do Parque Nacional do Araguaia localizado às margens do rio que dá nome a essa reserva indígena. Desde o século XVIII, o rio Araguaia é via usual de navegação e desempenha, ainda hoje, papel relevante como parte do sistema fluvial Araguaia-Tocantins que mantém em comunicação regular as regiões do Brasil Central e Amazônica. Nesse contexto, para além do contato com outros povos designados como indígenas, é grande o número de turistas e colecionadores que adentram a região, sobretudo, durante a temporada de praias do rio Araguaia, entre os meses de julho e setembro. Gente de fora valoriza o artesanato indígena e contribui para consolidar o constante florescimento da arte cerâmica a partir de um comércio exigente e frequente. Assim, é entre a conformidade aos padrões do que tem sido considerado a cultura Karajá propriamente dita e o desejo de corresponder às exigências dos contatos interétnicos cada vez mais estreitos, que as ceramistas materializam no barro aspectos mitológicos, rituais e cotidianos da gente Iny.

É especialmente de seu universo de sentidos que a ceramista retira os aspectos e elementos a serem explorados nesta arte figurativa, incorporando nas figuras de barro a pintura corporal dos Karajá, além de peças de vestuário e adorno consideradas tradicionais. Indicativos de categorias de gênero, idade e estatuto social, esses adereços complementam a representação figurativa das bonecas, que identificam o Karajá homem ou mulher, jovem ou velho, solteiro ou casado.

As ceramistas aplicam os grafismos em padrões básicos e derivados por meio de combinações diversas que alinham a repetição, o entrecruzamento de linhas e a sua distribuição na cerâmica. Entre os padrões mais comuns (re)produzidos (e combinados de diferentes maneiras) nas rifxôfeo encontram-se as listras e faixas pretas usadas, principalmente, pelos mais velhos nos braços e nas pernas, o Haru, padrão composto por losangos (isolados ou circunscrevendo linhas paralelas ou triângulos pretos), o Wedé-wedé, padrão composto por pontos, o Itxalabu, busto preto utilizado na pintura corporal masculina, e o Koé-koé, nome dado à grega e suas variantes, utilizado indistintamente por homens e mulheres de diferentes grupos de idade. Além destas distinções, as figuras cerâmicas atualmente comercializadas são representativas de outras categorias que se sobrepõem às de gênero e idade e que acompanham, igualmente, as etapas do ciclo de vida e morte Karajá, tais como: Itxorytyhy (homem casado com filho), Rarvna (homem com mais filhos), Kuladusé (mulher com um filho), Kuladusé raruna (mulher com mais filhos), Fulano /abié (avô de sicrano), Sicrano /abi (avó de fulano), Matnkari (velho), Senadu (velha), cenas de sepultamento (entre estas, o sepultamento secundário dos mortos, ou ritual de exumação dos ossos, que não é mais praticado), cenas de choro ritual, entre outras relativas a mitos, ao cotidiano e a elementos da fauna e da flora locais.

Mais do que objetos meramente lúdicos, as ritxòkòs simbolizam diversos planos da sóciocosmologia Karajá e são, por isto, consideradas representações culturais que comportam significados sociais profundos, por meio dos quais se reproduz o ordenamento sócio-cultural e familiar deste grupo étnico. Com motivos mitológicos, rituais, da vida cotidiana e da fauna, são importantes instrumentos de socialização das crianças que, brincando, se vêem nesses objetos e aprendem a ser Karajá.

Essa etnia ocupa uma vasta região ao longo dos rios Araguaia e Javaé e detém áreas nos territórios dos estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará. Em 2012, existiam 21 aldeias Karajá com uma população estimada em 2,9 mil pessoas. As diferentes manifestações culturais desse povo constituem um importante suporte à memória e à identidade da nação indígena, e também referenciam o contato com os não-índios. O grafismo, o artesanato e a arte plumária são algumas referências culturais que transcendem o espaço das aldeias e apresentam-se como identificação do território e da cultura regional.

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