Um novo estudo abrangente e de longo prazo buscou avaliar um tema complexo e motivo de grande preocupação, Cannabis e gravidez. Como resultado, os cientistas observaram que crianças expostas aos canabinoides no útero não apresentaram problemas no neurodesenvolvimento durante a vida.
Pesquisadores da Universidade Columbia, em Nova York, avaliaram o neurodesenvolvimento de mais de 2 mil crianças nascidas entre 1989 e 1992, que hoje em dia já são adultos. Esses participantes fizeram parte do Estudo Raine e contou com informações sobre o uso de Cannabis durante a gravidez relatadas pelas mães.
Para realizar o estudo Neurodevelopmental outcomes in children after prenatal marijuana exposure, os cientistas compararam crianças expostas à Cannabis durante a gestação usando uma técnica de emparelhamento de escores de propensão. Os dados vieram de alguns testes realizados aos 10 anos de idade e depois aos 19-20 anos. Eles utilizaram exames padronizados como o Teste Clínico de Fundamentos de Linguagem (CELF na sigla em inglês), Teste de Vocabulário por Imagens Peabody (PPVT na sigla em inglês e a Avaliação de Desenvolvimento Neuromuscular McCarron (MAND na sigla em inglês).
Após os devidos ajustes estatísticos, os cientistas chegaram à conclusão que a exposição pré-natal à Cannabis não foi associada a piores resultados neuropsicológicos em nenhuma das faixas de idade. Entre as 2804 crianças desse coorte, cerca de 10% delas foram expostas à Cannabis durante a gestação.
O Estudo Raine, ferramenta fundamental para a realização desse estudo sobre Cannabis e gravidez, é um projeto de pesquisa multigeracional. É um dos maiores estudos pensados para fazer análises de gravidez, infância, adolescência e vida adulta no mundo. Idealizado inicialmente na Austrália, o Raine gerou dados que servem de base para pesquisadores de todo o mundo.
Tema difícil de investigar
Sabemos que os canabinoides conseguem atravessar a barreira placentária e chegar ao feto. No entanto, os anos de proibição dificultaram análises mais profundas, pois dificilmente as mães relatavam o uso da planta com medo de problemas com a justiça ou de perder a guarda da criança. Além disso, gestantes que relatavam o uso de Cannabis frequentemente estavam em situação de vulnerabilidade social. Assim, os transtornos que eram identificados poderiam vir da exposição aos canabinoides ou por outros motivos como a deficiência na nutrição dessas mães e consequentemente do feto.
É muito importante que mais estudos sobre o tema da Cannabis e gravidez para que pessoas que fazem tratamento para saúde com a planta possam tomar a melhor decisão caso queiram ter um filho. Muitas vezes interromper a medicação por tantos meses pode trazer prejuízos significativos para a qualidade de vida nesse momento que exige tanta atenção.
Outros estudos sobre Cannabis e gravidez
Os resultados desse novo estudo estão em linha com outra investigação, realizada em 2017, e que não identificou diferença no neurodesenvolvimento de crianças que expostas à Cannabis no útero.
Nesse sentido também tivemos uma análise feita no estado da Califórnia após a regulamentação da Cannabis para uso adulto. Os resultados indicaram que o uso da planta durante a gravidez aumentou, mas isso não resultou em um aumento no número de problemas neonatais. Da mesma forma, um estudo realizado no Canadá pós-regulamentação não identificou aumento no número de crianças expostas à Cannabis no útero que desenvolveram o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
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Psicólogo e Clínico Canábico – UNEBRASIL PODCAST #7
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