Permacultora transforma gramado em Jardim Agroecológico

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Jardim agroecológico feito por educadora em seu quintal - Somos Verdes

Os gramados são a escolha da maioria para os quintais de lares brasileiros. Mas este não é o caso do jardim da residência da arquiteta e permacultura Andrea Valencio Pesek que, ao comprar a sua casa na região metropolitana de São Paulo, decidiu trocar o gramado por um Jardim Agroecológico, um oásis riquíssimo em vida e biodiversidade.

“Os jardins em sua maioria são gramados assépticos com espécies ornamentais, geralmente exóticas, onde venenos são utilizados para banir as plantas que nascem sozinhas e muitos insumos químicos são empregados para manter a grama sempre verde. As plantas são tratadas como objetos de decoração, a água da chuva é rapidamente drenada e os insetos não são bem vindos. Por isso decidi criar em minha casa um jardim agroecológico que servisse de inspiração”, contou Andrea em entrevista ao CicloVivo.

O local se modificou totalmente apenas dois anos após a retirada da grama e o início da construção de um lago feito com jardins de chuva. “Arranquei toda a grama. Isso libertou o solo e as sementes adormecidas puderam vingar. E assim revelou-se a alma do jardim. Cada planta que nasceu sozinha contou uma história sobre este lugar.”

 

“TRANSFORMEI O JARDIM NUM BERÇO DE VIDA.”

O jardim possui cerca de 250 metros quadrados e abriga mais de 300 espécies de plantas harmoniosamente misturadas, como picão, serralha, bertalha, capuchinha, milho, abóbora, buva, trapoeraba, almeirão selvagem, dente de leão, centelha asiática, ora pro nobis, feijão mangalô, feijão gandu, tabaco selvagem, taioba, gengibre, cúrcuma, mamona, mamoeiro, bananeira, pitangueira, muitas ervas e muitas flores.

 

O chamado para a agroecologia

Andrea cresceu e viveu na cidade de São Paulo até o nascimento de sua primeira filha, quando decidiu mudar para um sítio. “Me sentia incapaz de criar um bebê na cidade. Plantei grande parte da alimentação dela. Depois de 5 anos voltei para a cidade, tive mais filhos, trabalho… mas sempre sentia imensa falta da natureza”.

A arquiteta conta que seu despertar para a natureza dentro da cidade aconteceu quando fez uma expedição com o Rios e Ruas, que é uma iniciativa que caminha com as pessoas ao longo dos cursos de nossos rios ocultos pela urbanização. “Isso mudou meu olhar e minha vida. Passei a perceber os vestígios de nascentes, as pistas dos rios e a sonhar com uma cidade que ama suas águas e natureza.”

Andrea então começou a participar de outras iniciativas comunitárias como da  Horta das Corujas, uma das primeiras hortas comunitárias de São Paulo, do Ocupe&Abrace, que revitalizou e restaurou nascentes em uma praça da cidade, e do Permacultores Urbanos, que se dedica através de mutirões a regenerar a natureza da cidade, principalmente cuidando das águas de nascente e de chuva.

Há 4 anos Andrea saiu da zona oeste de São Paulo e se mudou para um novo imóvel na Granja Viana, Carapicuíba. “Quando me mudei para a casa nova, o jardim era apenas um gramado. Então, juntando os conhecimentos que acumulei trabalhando na regeneração do espaço público, transformei o jardim num berço de vida.” Foi aí que nasceu o Jardim Agroecológico.

O Jardim Agroecológico

Segundo a permacultora, que também é educadora ambiental, o equilíbrio natural é o princípio fundamental do jardim agroecológico. Quanto mais biodiversidade, maior o equilíbrio. Todos os insetos são bem vindos, não existe o conceito de “praga” e não se utiliza nenhum insumo químico.

Andrea explica que as plantas que nascem espontaneamente, como as PANC, por exemplo, são mais valorizadas que as alfaces, pois fornecem nutrição e remédio para o solo e para as pessoas, atraem polinizadores, protegem os cultivos, são resistentes e belas. “O custo de um jardim agroecológico é muito baixo pois aproveitamos todos os recursos locais.”

 

“INVARIAVELMENTE, O DESEJO DE TODO LUGAR É A DIVERSIDADE E A REGENERAÇÃO.”

“Cultivar um jardim agroecológico nos aproxima da sabedoria da natureza e nos coloca num lugar de humildade. Somos apenas uma das formas de vida do jardim. Antes de plantar,  devemos escutar profundamente o lugar, perceber o que ele quer ser. Invariavelmente, o desejo de todo lugar é a diversidade e a regeneração”, conta Andrea.

A permacultora explica que foi preciso pelo menos um ano, ou seja, quatro estações, para conhecer o local e o jardim. Ela passou muito tempo observando a dinâmica da água da chuva, que foi a guia do desenho do seu jardim. “Seguindo o caminho da água da chuva, removi todos os canos de drenagem existentes, construí jardins de chuva e biovaletas e instalei uma cisterna de 3.000 litros. Consigo atravessar 3 meses de seca com esta água acumulada no solo e usando a água da cisterna para regar.”

 


A água da chuva da casa corre para o lago através das biovaletas.

A permacultora projetou um lago no centro do jardim e acrescentou plantas macrófitas, que purificam e oxigenam a água. Ela explica que o lago forma um microclima, atrai libélulas, sapos, polinizadores, pássaros e espalha abundância. “A presença da água pura beneficia todo o entorno, e o jardim prosperou a partir do lago.”

“ESTE JARDIM QUER SER FLORESTA.”

Também foram feitas diversas composteiras para ter sempre adubo e um círculo de bananeiras para aproveitar a água da pia da cozinha. “Protegi o solo com uma camada de folhas, como numa floresta, e quando meu composto ficou pronto, incorporei-o ao solo, tornando-o vivo.”

“O jardim está em eterno movimento: vida, morte, vida. Agora estão nascendo árvores nativas: fumo bravo, pau jacaré, embaúbas, cedros, pois as sementes trazidas pelo vento e pelos pássaros encontraram solo fértil e o gramado não mais bloqueia seu desenvolvimento. Este jardim quer ser floresta.”

Vivências

Andrea organiza vivências para que as pessoas possam conhecer o seu Jardim Agroflorestal. Os eventos também abordam a regeneração do espaço público através de iniciativas cidadãs que não precisam de dinheiro nem do poder público, apenas da criatividade das pessoas quando se juntam em consonância e sintonia com a natureza.

“O conhecimento sobre como reter a água da chuva e pensar ao contrário do que se faz normalmente, que é expulsá-la do jardim, é muito transformador. Perceber a água como um organismo vivo e inteligente muda a nossa percepção sobre a vida.”

“Muitas pessoas que participaram das vivências depois me enviam fotos do lago que fizeram, me contam da horta comunitária que iniciaram, me mostram o almoço que cozinharam com as plantas de seu jardim. Isso me dá muita força pra continuar e muita esperança”, revela Andrea.

Ela conta que os princípios podem ser aplicados até mesmo numa varanda de apartamento, em vasos. “Qualquer lugar pode ser um jardim de abundância. Um pedacinho do planeta que, somado a outros pedacinhos, tem a potência de construir um mundo generoso, abundante e em equilíbrio”, finaliza.

 

 

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