Em um período remoto, a música era considerada uma arte divina, mas quem tinha o direito de possuí-la, ou seja, quem a criaria, era uma questão disputada entre os deuses. Saraswati, como deusa da sabedoria, das artes e da música, acreditava que a música era uma extensão de sua própria essência, algo que ela havia criado através de sua conexão com o divino e o cosmos. Acreditava-se que a música emanava de seu ser como uma manifestação da sabedoria pura e da harmonia universal.
Porém, Shiva, o deus da destruição e transformação, também estava profundamente envolvido com a música. Como o senhor das danças, especialmente com a sua dança cósmica, a Tandava, Shiva dominava os ritmos e sons do universo, que eram considerados as vibrações primordiais que sustentavam o cosmos.
Diante dessa disputa de quem deveria ser considerado o criador da música, Saraswati e Shiva se desafiaram. Saraswati, com sua habilidade e maestria no uso da veena, instrumento simbólico de sua arte, acreditava que a música era uma expressão de seu poder e sabedoria. Shiva, por outro lado, acreditava que a dança e os ritmos universais eram a verdadeira base da música.
A disputa entre eles tornou-se um espetáculo divino. Saraswati tocava sua veena com tal destreza e beleza que os sons se tornavam melodias encantadoras, mas Shiva, em sua forma de Nataraja (o senhor da dança), começou a executar sua dança cósmica, a Tandava, emitindo ritmos poderosos que se diziam ser a verdadeira origem dos sons cósmicos e da música universal.
No fim da disputa, a resolução divina veio com uma compreensão de que a música não pertencia exclusivamente a nenhum dos dois, mas era, na verdade, uma fusão de suas energias complementares. Saraswati, com sua sabedoria e habilidade nas artes, continuava a ser a deusa da música e das artes, enquanto Shiva, com sua dança e os ritmos cósmicos da Tandava, era o senhor das vibrações primordiais. Juntos, representavam os dois aspectos fundamentais da música: a criação e a transformação.
Dessa forma, o mito ressalta a ideia de que a música é uma força universal, que nasce tanto da sabedoria e da harmonia das artes quanto da energia caótica e transformadora do ritmo e da dança. A união de Saraswati e Shiva nas suas respectivas esferas de influência ilustra a complementaridade dessas energias na criação da música.
Fonte: Vishnu Purana | “Guia de Mitologia Hindu” – Escola de Mitologia
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Informação poderosa. Luz pra nós
O silêncio fala, mesmo que numa constante absoluta ou será ele mesmo inventando sua própria música. Gratidão pela matéria. LPN