O boi de Parintins é o ato popular, espetacular e criativo, a reinvenção o mito, a lenda do boi encantado que morre e ressuscita redescobrindo a cultura amazônica. Ele percorre a floresta e seus recantos, incorpora o universo lendário mítico e regional, além de valorizar rituais, celebrações tribais, costumes e a tradição popular. Ao seu repertório se unem a defesa da floresta, a força do povo simples e solidário, a essência da vida na Amazônia sustentável.
O Festival Folclórico de Parintins é uma festa popular que acontece todos os anos no município brasileiro de Parintins, no interior do estado do Amazonas. O festival é reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil.
As apresentações, que começam na última sexta-feira do mês de junho indo até domingo, simbolizam uma disputa a céu aberto entre duas agremiações folclóricas Boi Garantido (vermelho) e Boi Caprichoso (azul), que acontece no Centro Cultural de Parintins, mais conhecido como Bumbódromo, com capacidade para 35 mil espectadores.
São milhares de turistas do Brasil e do mundo que acompanham as toadas dos bois Garantido e Caprichoso. Na época do festival, a população de Parintins, de 115 mil habitantes, chega a quase dobrar. Segundo a prefeitura do município, cerca de 80 mil turistas visitam a cidade durante o festival. O Festival Folclórico foi responsável pela divulgação de algumas músicas que ficaram famosas, como os hits Tic, Tic, Tac (1993), Vermelho (1996), Saga de Um Canoeiro (1995), Parintins Para o Mundo Ver (1997), Lamento de Raça (1996), Ritmo Quente (1997), entre outras.
A História e Linha do Tempo
A história do boi-bumbá amazonense não começa no Amazonas, começa no Maranhão, nos folguedos do bumba-meu-boi, com base no auto do boi, tendo como personagens principais o boi, o pai Francisco e a mãe Catirina e o amo do boi. Nele há também Cazumbá e os índios, que entram na história para “caçar” pai Francisco.
A “brincadeira de boi” chega ao Amazonas pelas mãos de maranhenses que para cá vieram em fins do século 19. Se desenvolve primeiro em Manaus e aí desce o rio Amazonas para se tornar bem mais tarde o mais representativo e conhecido item de identidade parintinense.
Em 1965 aconteceu o primeiro Festival Folclórico de Parintins, criado por um grupo de amigos ligados à Juventude Alegre Católica (JAC), entre os quais Xisto Pereira, Jansen Rodrigues Godinho, Lucinor Barros e Raimundo Muniz, então presidente da entidade, além do padre Augusto, com o objetivo de arrecadar fundos para a construção da Catedral de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Parintins. No primeiro ano, vinte e duas quadrilhas se apresentaram, sem a presença dos bois Caprichoso e Garantido. Sem a disputa dos bois.
Em 1966 os bois-bumbá foram convidados a participar do festival, e pela primeira vez ambos participaram juntos do festival. Nessa época, o critério estabelecido para definir o campeão foi o boi mais aplaudido pelos presentes. Onde o Garantido primeiro campeão;
Em 1969 o Caprichoso recebe o seu primeiro título.
No ano de 1975, a organização do Festival foi assumida pela Prefeitura de Parintins, mudando o local para o Centro Comunitário Esportivo.
Em 1988 foi Inaugurado do bumbódromo, onde o Garantido foi campeão. E só em 1990, o caprichoso obteve a sua primeira vitória na nova arena de apresentação;
Com o tempo, o festival ganhou relevância nacional, passando a ser objeto de atenção da mídia e considerado atração turística de Parintins. Após a transmissão em rede de televisão nacional, profissionais que trabalhavam na festa passaram a ser contratados a partir da década de 2000 para trabalhar nos carnavais de Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo, Neste ano houve o primeiro e único empate da história do festival;.
Entre algumas turbulencias no ajuste de verba para cada um dos bois, em 1982, o Caprichoso, em protesto por ter demorado a receber as verbas públicas (que o boi Garantido havia recebido da Prefeitura com bastante antecedência), decidiu não disputar o festival, alegando que a disputa seria injusta, dado o tempo restado para confecção de um boi que pudesse competir à altura. A prefeitura, para manter a disputa, convidou o boi Campineiro que, por não ter condições de disputa, recebeu o vice-campeonato simbólico naquele ano. Assim, o Boi Garantido consagrou-se pentacampeão (1980, 1981, 1982, 1983 e 1984), sendo maior sequência de vitórias até hoje.
Em 2004, em apresentação apoteótica, Eric Scott, o homem voador da Nasa sobrevoou o Bumbódromo – Garantido Campeão;
Até 2005, o evento era realizado sempre nos dias 28, 29 e 30 de junho. Uma lei municipal mudou a data para o último fim de semana de junho.
Em 2013 acontece o Centenário dos bois – Garantido campeão;
Em 2015, completa 50 anos do festival – Caprichoso campeão;
Em 2017, os julgadores do festival sugeriram que este fosse ampliado e outros bois-bumbá pudessem ser incluídos na competição, com a criação de uma liga dos bois-bumbá.
Em 8 de novembro de 2018, o Complexo Cultural do Boi-Bumbá do Médio Amazonas e Parintins foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil na reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que aconteceu em Belém do Pará.
“ Concluímos finalmente que, acervos como o Complexo Cultural do Boi-Bumbá do Médio Amazonas e Parintins, por se constituírem em importante foco de resistência da cultura legitimamente nacional, não só tem relevância para o estado do Amazonas e para o país, mas se revestem de um valor universal como lição de liberdade e humanidade. E ratificando os demais pareceres constantes do processo, somos de parecer favorável à sua inscrição, no Livro de Registro das Celebrações, como Patrimônio Cultural do Brasil. — Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrês, Conselheiro do Conselho Consultivo do IPHAN.
Em 2020, pela primeira vez na história, o Governo do Estado do Amazonas adiou a realização do 55º Festival Folclórico de Parintins para junho de 2021, em função da Pandemia de COVID-19 no Brasil. A medida foi anunciada pelo governador Wilson Lima, em 11 de setembro de 2020, durante reunião com os poderes e representantes de classe. Logo depois, em razão da Pandemia de Covid-19, é anunciado o cancelamento do 55º Festival Folclórico de Parintins, sendo substituída por uma live especial realizada no dia 26 de junho. O evento não contou com a presença de público, que puderam acompanhar pelas plataformas digitais ou na TV aberta, pela emissora oficial do festival.
Componentes do festival
O festival possui um total de 21 quesitos (itens), sendo que a maioria não possui ordem predeterminada de apresentação. As exceções são os três primeiros (apresentador, levantador de toadas e marujada ou batucada), além do último (encenação).
Os quesitos são: apresentador; levantador de toadas; marujada e batucada; ritual; porta-estandarte; amo do boi; sinhazinha da fazenda; rainha do folclore; cunhã poranga; boi bumbá (evolução); toada (letra e música); pajé; tribos indígenas ; tuxauas; figuras típicas regionais; alegorias; lenda amazônica; vaqueirada; galera; coreografia, organização do conjunto folclórico.
Música
A música, que acompanha durante todo o tempo, é a toada, acompanhada por um grupo de mais de 400 ritmistas.
Os dois Bois dançam e cantam por um período de duas horas e meia, com ordem de entrada na arena alternada em cada dia. As letras das canções resgatam o passado de mitos e lendas da floresta amazônica. Muitas das toadas incluem também sons da floresta e canto de pássaros.
Ritual
O ritual é o momento máximo da noite. Geralmente, acontece na parte final das apresentações e faz referências a mitos, lendas, tradições ou rituais tipicamente indígenas. E o Ritual geralmente trazem o Pajé tanto no Boi Caprichoso quanto no Boi Garantido e as vezes a Cunhã-Poranga.
Auto do Boi
O auto do boi mostra o motivo pelo qual surgiu o Festival, com a história de Pai Francisco e Mãe Catirina. Catirina queria a língua do Boi, pois estava grávida. Pai Francisco foi atrás da língua do boi mais bonito da fazenda. Conseguiu e o matou. O Amo do Boi, dono da fazenda, quando soube ficou consternado e mandou trazer o “criminoso” para saber por qual motivo ele fizera tal ato. O Amo mandou ainda trazer médicos para tentar reviver o Boi, mas nada adiantou. Foi então que, com a ajuda dos índios, chegou ao Pajé, que fez reviver o boi do patrão.
Apresentador
Marca o centro do espetáculo, conduzindo o tema com sua voz. Precisa ter afinação, dicção, timbre e técnica de canto, No Garantido, atualmente o item é representado por Israel Paulain. Desde 2017, o apresentador do Caprichoso é Edmundo Oran.
Levantador de toadas
Após o apresentador, o elemento seguinte é o levantador de toadas, que precede à batucada. Todas as músicas que fazem a trilha sonora das apresentações são interpretadas pelo levantador de toadas. Trata-se de uma figura importante, já que a técnica, a força e a beleza de sua interpretação não só valem pontos como ajudam a trazer à tona a emoção dos brincantes. David Assayag e o mais reconhecido levantador do festival, que iniciou sua carreira no lado azul, depois tornou-se levantador do vermelho e por fim, em 2010, retornou ao Caprichoso, aonde está até hoje. No Garantido, desde a saída de David Assayag, o levantador de toadas é Sebastião Júnior.
Amo do Boi
O Amo do Boi, com seu jeito caboclo, exalta a originalidade e a tradição do nosso folclore, fazendo soar o berrante e tirando o verso em grande estilo. É a chamada do Boi, que vem para bailar. No Garantido, este item é representado por Gaspar Medeiros. No Caprichoso, Prince do Boi é o responsável pela defesa do item.
Sinhazinha da Fazenda
É a filha do dono da fazenda, representa a cultura europeia no boi. Precisa ter graça, desenvoltura, simplicidade, alegria, gingado,saudando o boi e o público. No Boi Caprichoso, o item é representado por Valentina Cid. Já no Boi Garantido, é representado por Valentina Coimbra.
Figuras Típicas Regionais e Lendas Amazônicas
Fazem aflorar os sentimentos de amor e paixão. Alegorias gigantes se movimentam. Coreografias e fantasias originais, com luz teatral e fogos, dão um brilho especial ao espetáculo. Ficção que retrata e ilustra a cultura e o folclore de um povo. Imaginação, envolvimento e encenação são importantes neste item.
Porta Estandarte
Representa o símbolo do Boi em movimento. Ela deverá ter garra, desenvoltura, elegância, alegria e sincronia de movimentos entre o bailado e o estandarte. Marcela Marialva no Caprichoso e Daniela Tapajós no Garantido.
Cunhã Poranga
Representa a moça bonita, uma sacerdotisa, guerreira e guardiã. Expressa a força através da beleza. Deve possuir desenvoltura e incorporar a personagem. No Caprichoso, o item é defendido por Marciele Albuquerque e, no Garantido, a moça mais bela é Isabelle Nogueira.
Rainha do Folclore
Representa a expressão do poder, pela manifestação popular. Deve possuir graça, movimentos com desenvoltura, incorporação, indumentária. Atualmente no Caprichoso depois da saída de Brena Dianá, a atual Rainha do Folclore é Cleise Simas. No Garantido o item é representado por Edilene Tavares.
Boi-Bumbá Evolução
É o símbolo cultural da manifestação popular. É a chegada do Garantido e do Caprichoso, a estrela guardiã da floresta, e o coração da festa, É a evolução do negro da América e do boi do povão, a cênica que deve conter a impressão de um movimento de um, boi real, soltar ‘fumaça’ pelo nariz que na verdade é farinha de trigo e não é obrigatório, mas tem que levantar a galera.
Pajé
O Pajé é o senhor da cênica feitiçaria e representa a cultura indígena na área. No Boi Caprichoso atualmente o Pajé é o Eric Beltrão, e no Boi Garantido é o Adriano Paketa.
Tribos Indígenas
Apresentação de um agrupamento nativo da Amazônia. Considera-se: sincronia de movimentos, fidelidade às raízes, cores, expressões cênicas, formas de dançar e movimentos originais.
Galera
A galera dá um show à parte. Enquanto um Boi se apresenta, sua galera participa com todo entusiasmo. Seu desempenho também é julgado. Do outro lado, a galera do contrário (adversário) não se manifesta, ficando no mais absoluto silêncio. Um torcedor jamais fala o nome do outro Boi, e usa apenas a palavra “contrário” quando quer se referir ao “opositor”. São proibidas vaias, palmas, gritos ou qualquer outra demonstração de expressão quando o adversário se apresenta.
Jurados
Os jurados, em número de 6, são sorteados na véspera do Festival e todos vêm de estados que façam parte de outras regiões do país, que não a Região Norte. Requisito é ser estudioso da arte, da cultura e do folclore brasileiro.
Total de Títulos
O boi Caprichoso atualmente possue 23 títulos.
O boi Garantido atualmente possue 23 títulos.
Os bois de Parintins tem hoje reconhecimento mundial como uma das principais festas culturais brasileiras.A festividade, que traz à arena simbolismos regionais que representam os povos indígenas e o homem ribeirinho nortista, se popularizou e tem atraído pessoas do mundo inteiro para a “Ilha Tupinambarana”, nome pelo qual a cidade de Parintins ficou conhecida. De forma massificada, os bois são muito populares no Amazonas e no Pará (principalmente a Oeste). Nessas regiões, as agremiações folclóricas contam com grandes torcidas que criam seus consulados e formam grandes caravanas para o festival. Os bois também são responsáveis pelo maior evento festivo de Manaus, o Boi Manaus, onde milhares se reúnem no Sambódromo da cidade para se divertir ao ritmo regional. A rivalidade tem ares esportivos e se equiparada ao futebol, seria uma das maiores do país. Em Parintins, a cidade se divide ao meio pelos dois bois e essa rivalidade se alastra para outros municípios da região, incluindo Manaus.
As músicas dos bois são lançadas em CD e DVD, e acontece em Manaus, os ensaios dos bois, chamado de Curral do Garantido e Bar do Boi Caprichoso, as datas são sempre determinadas pela presidência de ambos os bois, normalmente, inicia-se me meados de março e finaliza sempre em junho (em um sábado antes do Festival).
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