Maria das Dores Viana, de 71 anos, apresentou melhoras no humor e na interação já nos primeiros dias do tratamento com óleo de cannabis.
Tudo começou em 2017, quando Maria foi diagnosticada com Alzheimer. As mudanças constantes de humor despertaram a desconfiança dos familiares. A princípio, classificaram os episódios como crises de depressão, mas uma consulta ao psiquiatra confirmou a doença neurológica crônica.
Priscila Viana de Albuquerque, de 28 anos, acompanhou de perto a batalha da avó para superar a síndrome, responsável por 60% dos casos de demência no Brasil, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde.
“A família não aceitava de forma alguma a doença e muitos conflitos surgiram e foi muito difícil superar, até que não tinha mais para onde correr e então decidimos iniciar o tratamento com os alopáticos, mas nada ajudou, pelo contrário piorou muito”, contou.
A neta de Maria das Dores Viana, de 71 anos, reforçou que os laços familiares já estavam “totalmente destruídos”. A situação só mudou quando tomou conhecimento do óleo de Cannabis. “O quadro de agressividade aumentava dia após dia. Minha avó já era uma pessoa bem agressiva antes do Alzheimer, depois do diagnóstico isso triplicou.”
A doença se agravou rapidamente em pouquíssimo tempo, entre 2017 a 2019, quando os alopáticos – medicamentos que tratam patologias a partir de efeitos contrários aos sintomas – já não faziam o efeito desejado. Em uma nova consulta, o psiquiatra receitou um remédio chamado Haldol, indicado para alívio de transtornos comportamentais. Mas ninguém esperava que a situação poderia piorar.
“Piorou muito mais. E essa substância acabou impregnado no organismo da minha vó. Com isso, ela [Maria das Dores] foi perdendo a fala e a locomoção motora. Não conseguia falar, andar e assim não saia da cama”, contou Priscila Albuquerque. A partir de então, a família suspendeu, por conta própria, o Haldol e buscou outras alternativas.
Encontraram um segundo neurologista. E foi ele quem prescreveu o tratamento com Cannabis à avó de Priscila e suspendeu os outros medicamentos. “No início foi muito difícil, mas conseguimos desmamar de todas as outras medicações”.
Pouco tempo depois de iniciar o uso do óleo Full Spectrum, o humor de Maria das Dores Viana melhorou. Ela voltou a andar, falar e interagir. “Claro, ela não recuperou a memória, mas, hoje em dia ela é muito amorosa, carinhosa coisa que já havia perdido devido a doença”, reforçou Priscila.
“Dia após dia tem sido uma vitória, claro, existem dias não tão bons mas os dias bons conseguem se sobressair”, ressaltou.
A neta de Maria tomou conhecimento sobre a eficácia do óleo de Cannabis através da história de seu Ivo Suzin, de 59 anos e portador de Alzheimer. O caso ganhou repercussão depois de aparecer em um programa televisivo. Ivo passou dez anos em tratamento convencional e não obteve melhora.
Acesso à cannabis
Segundo Priscila Albuquerque, inicialmente o uso do óleo Full Spectrum com THC exigiu um alto custo. “Infelizmente pelo SUS (Sistema Único de Saúde) não conseguimos médicos prescritores, então pagamos caro pela consulta”.
Maria das Dores Viana, de 71 anos e portadora de Alzheimer conseguiu reduzir os custos com a ajuda da Associação Brasileira de Apoio a Cannabis Esperança (Abrace), que fornece óleo a um custo bem abaixo do mercado. Ainda assim, a neta alerta para a dificuldade de pessoas que não tem a mesma sorte.
“Tenho muita vontade de poder fazer algo a mais para ajudar as pessoas que chegam até mim desesperadas. Tudo o que eu posso fazer é dar instruções, mas sofro em não poder fazer mais”, revelou Priscila.
Ela contou sobre a vontade de criar um sistema de redirecionamento para dar suporte às pessoas e facilitar o acesso a Cannabis. Para a neta de Maria das Dores, as pessoas precisam deixar de lado o preconceito e interesses capitalistas. “É um absurdo o que acontece. Muito triste saber que alguém sofre por não ter acesso a uma planta”, lamenta.
Priscila Albuquerque aconselhou familiares de portadores de Alzheimer a não desistirem. “Ainda há esperança, essa esperança se chama Cannabis medicinal, a maconha mesmo”, reforçou. Missionária em tempo integral, ela lembrou ainda não ter enfrentado preconceito nem na igreja que frequenta. “A Cannabis mudou a realidade da nossa família, que estava destruída”, diz Priscila.
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