A maior parte dos mais de 20 anos de carreira da médica Andrea Martins De Oliveira, especialista em ginecologia e obstetrícia, foi dedicada ao atendimento às mulheres. Mas foi ao se ver responsável pelos cuidados de um homem, que a medicina ganhou outro sentido.
“Chegou um momento em que meu pai, que sempre foi diabético, obeso, ficou muito ruim. Começou a falhar o rim. Uma insuficiência renal crônica, apenas 25% funcionando”, conta.
Sob seus cuidados, seu pai, aos 75 anos, chegou a emagrecer 32 quilos, mas nada que fizesse reduzir a glicemia, característica da diabetes. “Eu tive que mudar para a casa dele porque ele teve uma pneumonia. Passou muito mal”, lembra. “Fui ver a glicemia dele, e estava super alta. Falei: pai, não tem mais jeito, vai ter que mudar os hábitos. Ele é um péssimo paciente, precisa de um guardião. Às vezes briga, é bem complicado.”
Sua preocupação só aumentou quando, além de todos os problemas, a mão de seu mais próximo paciente começou a tremer. “Começou a desenvolver Parkinson. Já estava com insuficiência renal, tinha insuficiência carotídea também. Tudo consequência da diabetes. Com o Parkinson, que remédio eu poderia dar? Qualquer um vai intensificar a insuficiência renal dele e levar para a hemodiálise.”
A descoberta da Cannabis
Foi quando uma amiga com uma filha dentro do espectro autista a procurou. Como tantas mães nessa situação, já havia descoberto o benefício da Cannabis Medicinal para o autismo. Precisava de uma prescrição, dentro do processo para conseguir um habeas corpus que a permitisse produzir o medicamento de forma artesanal. “Eu falei: não sei de nada, mas se é só prescrever, você me ensina como e eu prescrevo.”
Com o óleo de Cannabis pronto, e a melhora no quadro de autismo, sua amiga perguntou se não queria dar o óleo para o pai. “Ela me mostrou uns estudos falando que ajuda com o tremor e dei a Cannabis. Em 15 dias acabou o tremor.”
Preparação para prescrever Cannabis
“Agora não tem jeito. Tenho que estudar a Cannabis”, diz a médica. Fez curso em um centro de referência em Cannabis nos EUA, seguido por pós-graduação em Cannabis pela Santa Úrsula e depois pela Unifesp. Está concluindo outra pós na UnyLeya, de Portugal.
“Vi que doenças que a gente não conseguia tratar e ter uma melhora com a medicina alopática, é possível obter melhora com a Cannabis. Quando você estuda sistema endocanabinoide, percebe que ele comanda os outros sistemas. O problema que você enfrenta, na maioria das vezes, começou dentro do sistema endocanabinoide. Por uma falha dele.”
Cannabis no tratamento de Parkinson
Após seis meses de tratamento, seu pai voltou a se queixar que não se sentia bem. Foi fazer o teste da diabetes e se surpreendeu ao perceber que o mal-estar era por estar com o nível de glicemia muito baixo.
“Falei: pai, a partir de hoje você não toma mais nenhum remédio para baixar a glicemia. Retiramos as medicações alopáticas todas. Ficou só a da cardiologia, que não tem jeito de tirar. As outras convencionais, nós tiramos todas.”
Foi quando decidiu que se dedicaria integralmente à medicina canabinoide. “A Cannabis me ensinou a ver a medicina de uma outra maneira. Antes, qualquer médico que recebesse um paciente com Parkinson ou Alzheimer, você pensa nos medicamentos que pode dar, mas sabe que não vai funcionar. Se funciona um pouquinho, é por 3, 4 meses.”
“Você não trata a causa da doença. Trata os sintomas. Está passando um pano. Faz uma limpezinha, mas não trata de verdade a doença e ela vai aumentando e acabando com a pessoa.”
Com os fitocanabinoides é diferente. “Se for uma família que cuida, dificilmente esse paciente não vai melhorar. Mesmo pacientes que tiveram perda de memória mais severa. O paciente fica mais tranquilo, consegue comer, dorme, dá menos trabalho”, garante. “Retira os alopáticos e fica melhor ainda. É muito gratificante ajudar. Você nota que está cumprindo sua função de médico. Isso revitaliza. Voltei a praticar a medicina que sonhava antes de começar a estudar.”
Médica prescritora
Apesar de já acumular quatro anos de experiência na prescrição de Cannabis e ter superado a marca de 400 pacientes beneficiados, o benefício do medicamento para a saúde de seu pai segue surpreendendo.
“Em março desse ano, meu pai, minha mãe, meu irmão e sobrinha tiveram Covid. Eu pensava que se meu pai pegasse, ele não ia durar cinco minutos. Mas, tomando a Cannabis há quatro anos, não apresentou absolutamente nada. Só uma tosse bem leve”, relata Oliveira.
“Minha mãe, que não tomava Cannabis, teve 30% do pulmão comprometido. Teve que ir para o hospital, internada. Meu irmão, com 50 anos, teve o pulmão comprometido. Já meu pai, que achei que não aguentava, superou a Covid sem nenhuma medicação”, continuou.
“Meu pai só tá vivo até agora por causa da Cannabis. O que mais facilitou a vida é que não desenvolveu Parkinson ou Alzheimer. Consegui agarrá-lo no momento chave para que o cérebro dele não tivesse essa degeneração.”
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