Mãe decide estudar com a filha com paralisia e as duas se formam em Direito

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Devido a dificuldade para locomoção da filha de 22 anos, a mãe, aposentada, decidiu estudar com a filha e ambas se formaram em direito, na cidade de Toledo, cidade que fica a cerca de 50 quilômetros de Cascavel. A reportagem é da Ric Mais.

Cristiane Waskiewicz tem 22 anos. Sua restrição de mobilidade é decorrente de um nascimento prematuro que culminou em uma severa desoxigenação cerebral e, portanto, no diagnóstico de uma das variações da paralisia cerebral, cujas principais sequelas são motoras e estão relacionadas ao funcionamento dos membros inferiores.

Cleudes Tonial Waskiewicz, de 59 anos, é professora aposentada e não mediu esforços para que a filha se formasse, por isso decidiu acompanhar Cristiane na faculdade e se matriculou na mesma instituição de Ensino.

O curso de direito não foi exatamente uma opção para Cristiane, a escolha profissional sempre foi psicologia, mas como não foi possível a jovem optou por algo “ semelhante”.

“Considerando que nenhuma das universidades próximas da cidade onde moro ofertava o curso desejado em período diurno (visto que, na própria universidade onde estudo a modalidade matutina do curso passou a ser ofertada há apenas 3 anos), a solução foi matricular-se em um curso que fosse minimamente semelhante com o desejado. A minha escolha profissional sempre foi psicologia. Entretanto, na atual condição da sociedade em que estamos inseridos, as decisões de uma pessoa com deficiência são sempre pautadas pelo que é possível, e não necessariamente desejado”, Cristiane Waskiewicz.

A mudança de curso foi só uma das condições que o jovem teve que passar, depois de escolher a sua profissão outra barreira precisou ser solucionada e foi aí que emperrou o amor de mãe, Cleudes.

“Na época da conclusão do ensino médio, em 2016, minhas restrições de mobilidade eram consideravelmente maiores que as atuais, logo, não era viável iniciar uma graduação no ano seguinte sem o auxílio de alguém. Infelizmente, nesse período não havia à disposição nenhum profissional capacitado para desempenhar essas funções. Uma vez surgindo a necessidade de que a minha mãe me levasse até Toledo devido à ausência de adaptações no transporte público, ela optou por aproveitar a oportunidade para dela colher algo positivo: aposentada, decidiu retomar os estudos e acompanhar-me também nas aulas”, Cristiane Waskiewicz.

A distância entre Palotina Toledo é de cerca de 60 quilômetros, era este o percurso que mãe e filha faziam diariamente para participar das aulas. A possibilidade de morar em Toledo, era inviável, diante do trabalho do pai da jovem e também dos tratamentos de Cristiane que eram realizados em Palotina.

“Nós sempre fizemos o trajeto intermunicipal de carro, tendo em vista a ausência das adaptações exigidas legalmente nos transportes universitários”, Cristiane Waskiewicz.

Assim como a Cristiane, Cleudes também se matriculou na PUC PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), câmpus Toledo, o que proporcionou uma grande troca de experiências, como explica a mãe.

“Conviver com tantos outros alunos mais jovens me proporcionou experiências muito valiosas e representou uma oportunidade para novas amizades e conhecimentos que jamais imaginei ter. Principalmente, essa experiência me fez sentir melhor, mais nova e retornando à juventude”, Cleudes Tonial Waskiewicz.

“Não posso negar que no início dessa trajetória, aos 17, essa decisão gerou certa estranheza, já que, certamente, eu seria a única estudante acompanhada pela mão na universidade, e, isso despertava certo receio de que aquilo tolhesse a minha liberdade enquanto jovem e privasse de algumas experiências próprias da juventude. Entretanto, com o passar dos dias e desenvolvimento de certa maturidade, a sua presença ao meu lado se tornou algo comum e prazeroso, inclusive fazendo falta quando, por alguma eventualidade isso não acontecia”, Cristiane Waskiewicz.

Estudos x tratamentos
Mesmo com a rotina de estudos, mãe e filha também eram companheiras durante o tratamento da jovem, que também eram feitos em ambas as cidades; Toledo e Palotina. Os horários e as rotinas precisavam ser conciliados para que tudo pudesse ser realizado da melhor maneira possível.

Além de todas as inúmeras obrigações relativas aos estudos no período matutino, ainda era necessário acompanhá-la até as atividades de sua reabilitação física no período da tarde, nos cinco dias úteis da semana; hora em Palotina, hora em Toledo. No período restante, era preciso realizar boa parte das tarefas domésticas e fazer as atividades extraclasse do curso. A rotina de estudos sempre representou um grande desafio porque o curso exigia conhecimentos e habilidades completamente diferentes da minha primeira formação. É evidente também que, os tempos são outros, e, o período de muitos anos longe dos bancos da universidade demandou uma rotina muito mais assídua de estudos, até que eu estivesse adaptada à nova realidade”, Cleudes Tonial Waskiewicz.

“Nós duas fazíamos parte de grupos considerados minoritários – pelo menos em uma universidade: eu, pessoa com deficiência e ela com uma idade não muito comum entre os alunos, e eu nunca havia ouvido falar a respeito de uma pessoa como eu que tivesse ensino superior completo. Então, o período de entrosamento com os colegas era um grande e, inicialmente, até decepcionante desafio”, Cristiane Waskiewicz.

Para auxiliar a filha, mãe se matricula em faculdade e ambas se formam em Direito

Realização
Cleudes, mãe coruja, enfatiza que a filha sempre teve suas habilidades cognitivas preservadas e um grande potencial, por esse motivo para os pais, deixar ela longe dos estudos, nunca foi uma opção.

“Desde a infância da Cristiane, buscamos fornecer a ela ferramentas para um bom desenvolvimento e para que alcançasse nosso maior objetivo como pais: uma vida normal e independente nos aspectos sociais, emocionais, financeiros e profissionais (respeitadas as suas limitações). Portanto, vê-la formada é um motivo de enorme orgulho e gratificação, pois significa que, em grande parte, esse objetivo foi atingido. Somente temos de agradecer a Deus por isso.”

Para Cristiane, além de a mãe ser uma grande referência materna, é um exemplo de vida e de aprendizado. “O que há de mais valioso que um indivíduo pode deixar a outro durante sua existência, é um bom exemplo. É isso que o ato de minha mãe representa para mim: o exemplo material da forma mais genuína de amor que pode existir, e que pretendo perpetuar para minhas próximas gerações. Esse ato representou para mim a esperança de crescer em uma sociedade que tanto nos diminui, afinal, o conhecimento é que nos salva dos perigos da ignorância, e, acima de tudo, é a única coisa que nos pertencerá perpetuamente.

 

Fonte

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