Heroína indígena do século 17 liderou batalhão feminino contra os holandeses

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A historiografia brasileira relegou à invisibilidade os feitos de inúmeras mulheres que participaram de rebeliões e revoltas durante o domínio português. Não é difícil, portanto, compreender a falta de registros históricos consolidados da heroína indígena Clara Camarão. Mesmo assim, ela teve o nome inscrito, em 2017, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, que homenageia personalidades que tiveram papel fundamental na construção do Brasil, por sua luta que levou à expulsão dos invasores holandeses de Pernambuco, no século 17.

As Mina na História - Clara Camarão foi a primeira mulher e indígena a ser  considerada uma heroína no Brasil. Nascida no início do século XVII, o seu  nome indígena foi esquecido.O que Clara fez justifica a honraria – ela teve participação decisiva na que é considerada a primeira batalha militar da história brasileira em que as protagonistas foram mulheres. Clara nasceu por volta de 1590 na aldeia Igapó, da etnia potiguara, no atual Rio Grande do Norte. Recebeu o nome Clara quando foi batizada no cristianismo por padres jesuítas, em 1614. O sobrenome vem do marido, o líder indígena Poti, que também foi batizado e catequizado pelos religiosos e ficou conhecido como Antonio Felipe Camarão.

O casal sempre lutou ao lado dos portugueses contra o domínio holandês, participando de escaramuças numa grande área territorial entre os atuais estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Em 1630, os holandeses invadiram Olinda — na época, capital de Pernambuco, a mais rica e importante capitania brasileira – e iniciaram um logo período de domínio no Nordeste.  Anos depois, em 1645, em meio à criação de um movimento organizado pelos portugueses para expulsar os holandeses, a chamada Insurreição Pernambucana, Felipe Camarão se ofereceu como voluntário, liderando uma companhia de 350 índios potiguares contra os invasores.

Clara, inicialmente, permaneceu em Igapó e no ano seguinte decidiu viajar para se juntar a Felipe Camarão na aldeia de Tejucupapo, de apenas 200 habitantes, liderada por jesuítas e hoje situada no distrito de Goiana, na Zona da Mata de Pernambuco. Em Tejucupapo, Clara e outras mulheres brancas e indígenas foram treinadas nas armas portuguesas, aprendendo rapidamente a lutar com espadas e broquel (um pequeno escudo redondo que se encaixava no antebraço), além de montar a cavalo.

Naqueles anos, os conflitos contra os invasores holandeses haviam provocado fome e violência em toda a região. Em busca de comida, os holandeses decidiram saquear Tejucupapo e, para escapar da resistência dos homens – que saíram para bloquear as estradas de acesso à aldeia –, fizeram a incursão por uma área de mangue. Só que as mulheres já estavam esperando o ataque.

À frente de outras guerreiras da aldeia que viraram lenda na Zona da Mata pernambucana, Clara Camarão recorreu a uma estratégia inusitada para enfrentar em Tejucupapo os 600 holandeses, liderados pelo almirante Lichthant: elas ferveram tonéis de água e adicionaram pimenta à mistura. O vapor, levado pelo vento, atingiu de frente os soldados holandeses, que ficaram desnorteados, com os olhos ardendo de dor.

Na sequência, em questão de minutos, as mulheres lideradas por Clara atacaram os soldados com broquel, tacapes (pequenas espadas de madeira), lanças e, claro, tonéis de água fervente, jogados no rosto dos soldados inimigos. Naquele 23 de abril de 1646, diz a lenda, pelo menos 300 soldados holandeses pereceram.

A fama adquirida levou Clara Camarão e seu batalhão feminino a se juntar aos demais pernambucanos na histórica Batalha de Guararapes, em 18 e 19 de abril de 1648, ocorrida no atual município de Jaboatão dos Guararapes. Não há registros históricos da participação de Clara Camarão na batalha, apenas que as tropas lideradas por portugueses trucidaram os invasores holandeses, que teriam perdido 1.200 homens, contra apenas 84 locais.

Ferido na batalha, Felipe Camarão morreria quatro meses depois, aos 68 anos. A morte do marido certamente ajudou a jogar Clara no ostracismo historiográfico. Mas seu nome jamais foi esquecido: por seu heroísmo, foi agraciada com o hábito de Cristo e gozou de regalias do título de Dona, concedido pelo rei Felipe IV, da Espanha — que entre 1621 e 1640 também foi rei de Portugal –, aos grandes líderes militares. Além dela, Felipe Camarão também recebeu do rei espanhol o título de Dom, por serviços prestados à nação portuguesa.

Desde 1993, no último domingo do mês de abril, moradoras do distrito de Goiana encenam a Batalha de Tejucupapo, como forma de preservar a memória daquelas guerreiras que lutaram não só contra os invasores, mas também contra o preconceito. Além de ter seu nome inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, Clara Camarão batiza uma refinaria de petróleo em Guamaré (RN) — foi a primeira refinaria do Brasil a receber o nome de uma mulher.

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