Ninkasi, Nephthys e Tenenit: As deusas da cerveja

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Há 11 000 anos, enquanto os homens saíam para caçar e levar a carne para casa, as mulheres ficavam responsáveis por cuidar dos grãos que eram mantidos dentro de jarros e que seriam usados para fazer pão. Foi dessa forma, intuitivamente, que a cerveja foi descoberta. “Os grãos muitas vezes não eram consumidos e acabavam mantidos dentro de jarros, tomando chuva e sol, sendo fermentados e criando a “alquimia” que hoje chamamos de cerveja.

A bebida teria surgido por acaso, depois que grãos de cevada fermentaram durante a noite. Para muitas civilizações, a cerveja era considerada um símbolo feminino e fértil. Este foi particularmente o caso no Egito, na Mesopotâmia, na Escandinávia, nos Celtas e nos Incas.

Milhares de anos depois, por volta de 1.800 a.C., foi escrita a primeira receita de uma cerveja. Feita em homenagem a uma mulher, a deusa conhecida como Ninkasi pelos sumérios, a fórmula trazia tâmaras, grãos variados, ervas, mel e especiarias.

Ninkasi é a antiga deusa suméria que representava a cerveja. Seu pai era Enki, e sua mãe Ninti, rainha de Apsu. Ela também é uma das oito crianças criadas para curar uma das oito feridas que Enki sofreu.

Antigo Egito

A divindade dedicada a proteger os produtores dos insumos e da bebida era Tjenenyet, também conhecida como Tenenit. Seu nome era derivado de “tenemu”, uma das palavras do antigo egípcio para “cerveja”.

Tenenit era diretamente ligada a Meskhenet, deusa do parto e protetora das casas de parto. Por isso, muitas vezes era invocada por seus devotos para proteger as mulheres grávidas e o nascimento dos filhos.

Seu templo ficava localizado em Hermontis, à margem esquerda do Rio Nilo. Lá, também era adorado o deus da guerra Montu.

Outra divindade associada à cerveja era Nephthys, deusa da morte, protetora das almas e também da água. Como para a produção de cervejas era necessária uma boa quantidade do líquido, alguns produtores pediam a ela que abençoasse sua produção.

Seja Ninkasi, Tenenit ou até mesmo Nephthys, ambas as deusas da cerveja foram importantíssimas para a manutenção da cultura dessa bebida que tanto amamos. Se não fossem os cultos a essas divindades, é possível que a produção e a apreciação tivesse tomado outros rumos.

A cerveja, desde sua invenção, tinha como objetivo principal a alimentação da família, há indícios de mais de 6 mil anos atrás que mostram que a civilização já consumia bebidas fermentadas à base de cereais. A cerveja (que era chamada de sikarudida ou ebir) tinha uma consistência mais grossa e era utilizada na alimentação quase diariamente, por ser um alimento nutritivo, mais do que a criação, a alquimia da mesma foi, por muitos anos, ofício exclusivamente feminino.

O próprio lúpulo, um dos principais ingredientes na produção da cerveja, teve suas propriedades descritas pela primeira vez anos mais tarde, no século XII, por uma mulher, a monja e teóloga alemã Hildegard von Bingen ou Santa Hildegarda.

Estima-se que no século XV (crise da Idade Média e início do Capitalismo), o desenvolvimento e a fabricação da bebida começaram a ser retirado das mãos e do universo feminino e aos poucos a ser ressignificado como um elemento masculino. Isso se deu pelo fato de que a igreja condenava fraternidades femininas ditas como “movimentos hereges” e foram ferozmente perseguidos, então deu-se início ao período de “Caça às Bruxas” que ficou muito popular desde então. A figura de bruxa era facilmente associada as mulheres cervejeiras por conter, em sua posse, caldeirões para a produção, gatos para eliminar os ratos que se proliferavam nos pub’s por consumirem os maltes e as vassouras penduradas na porta para avisar que ali se comercializava cerveja. Muitas cervejeiras foram queimadas na fogueira, acusadas de bruxaria.
Enquanto isso acontecia, muitos homens foram aprendendo a produzir cerveja, pois o hábito de toma-las já se tornara muito popular em toda Europa. Tal processo de apropriação se deu desde o século XV até meados do século XVIII.
O processo de produção em grande escala começou juntamente com a revolução industrial, e como trabalhos fora do lar era atribuído ao homem da casa, a produção e aprimoramento de cerveja passou a ser direcionado pelos homens.

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