Aos 4 anos, Myrian Krexu, agora com 32, quebrou o braço e precisou ir ao hospital. Ao conhecer o trabalho do médico que a atendeu, a pequena, da nação Guarani Mbyá, escolheu sua profissão. Formada em 2013, ela é a primeira cirurgiã cardiovascular indígena do Brasil.
Cuidar é uma habilidade ancestral, e muitas curas que a ciência desenvolveu procedem da observação da natureza feita por indígenas”, explica Myrian. A médica defende a desmistificação dos indígenas por meio da educação: “Ainda somos vistos como seres místicos e folclóricos ou com uma única maneira de ser e parecer. Os indígenas devem ter a oportunidade de escrever sua história, pois os livros sempre foram escritos por não-indígenas e na visão colonizadora”.
Aprendeu a ler em português, desenhar e fazer trabalhos manuais antes de entrar na escola, pois foi ensinada pela avó, a grande responsável pela sua educação na infância. Os anciões são considerados os mais sábios da aldeia e as crianças, os membros mais importantes, constituindo-se no grupo prioritário.
Concluiu seus estudos em uma escola pública e entrou na faculdade de medicina logo após terminar o Ensino Médio, também em uma universidade pública, a Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), recebendo o diploma em 2013.
Após a formação, ainda não havia decidido qual especialidade seguir. Durante a faculdade, sempre teve predileção por áreas cirúrgicas, com um encantamento por habilidades manuais adquirido na infância. Entre as especialidades clínicas, desenvolveu mais interesse pela cardiologia. Ainda assim, preferiu voltar para a aldeia como médica, e hoje vê que foi a melhor escolha que poderia ter feito na época.
Trabalhou por três anos na saúde indígena, o que lhe trouxe uma experiência profissional incrível e habilidades que não teria hoje, se não fosse por esse período na atenção básica.
Após três anos, com sua família, comunidade e cacique, decidiu que era o momento de continuar estudando e evoluindo: conciliou sua predileção pela cirurgia e o amor à cardiologia na escolha pela cirurgia cardíaca.
Atualmente, Myrian está concluindo o quarto ano da especialização no Instituto de Neurologia e Cardiologia (INC) de Curitiba.
Quando questionada sobre planos para o futuro, ela fala em concluir a residência e continuar estudando e praticando. Acredita que não se deve estagnar e se conformar, seja qual for a carreira escolhida.
Myrian leva a medicina voluntariamente para a aldeia sempre que volta. Segundo suas próprias palavras, “Aquilo que eles mais carecem é atenção básica e eu não deixei desaparecer a médica generalista que há em mim, continuo amando o atendimento à criança, ao idoso, à gestante e, o mais importante, a medicina preventiva. As comunidades indígenas são locais em que a atenção do médico e das equipes de saúde realmente fazem a diferença, e o que às vezes parece pouco tem um efeito importante”.
Pergunto à Myrian como o povo indígena encara o fato de ter uma de suas filhas como médica residente de cirurgia cardíaca. Ela me responde que é da mesma maneira que as famílias dos outros residentes encaram sua formação: com orgulho! As comunidades indígenas nada mais são do que grandes famílias, com muitas mães, pais, avós e irmãos. Uma das coisas mais importantes para o indígena é se sentir representado, e hoje, como médica, ela diz que carrega o peso de representar um povo e a responsabilidade de mostrar que o indígena deve ter acesso à educação e ser o profissional que ele almeja ser.
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