Helena – A Guerra de Tróia

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A Guerra de Tróia – Parte 1

“Os deuses criam sofrimentos e conflitos para que os homens tenham histórias para contar”, disse Homero.

Tragédias, traições, premonições, destinos, mortes, ressentimento, remorsos, mitos e lendas envolvem a maior guerra do mundo. No meio disso tudo, uma mulher – Helena -, a mais bonita de todas as mulheres.

 

A GUERRA DE TROIA

Narrada nos poemas de Homero, o pai da História, escritos por volta do século 9 a.C., foi daí que a mitologia grega começou a virar História no sentido literal da palavra. Essa guerra épica deu origem aos dois poemas famosos da literatura clássica: Ilíada, que relata os últimos anos da guerra; e a Odisseia, que narra a fantástica viagem de Odisseu de volta à Grécia (Odisseu foi um dos principais heróis a lutar contra os troianos). Troia ficaria na atual Turquia.

O poema de Homero não se prende a uma luta de heróis contra bárbaros. Pelo contrário, o legado que nos deixou foi uma conflagração de paixões profundamente humanas. O amor dos homens por mulheres será o centro das atenções da Mãe de todas as guerras.

A GUERRA PELA MULHER MAIS BONITA DA TERRA

O maior conflito travado na mitologia grega teve como estopim a beleza de Helena. A traição e a paixão dessa mulher, que virou história, causou a destruição de Troia. Que por sinal, foi construída por dois deuses da mitologia: Posseidon e Apolo.

A ADOLESCENTE HELENA

Desde menina, Helena despertava nos homens a vontade louca de serem escolhidos por ela. Nascida em Esparta, Helena era nada mais nada menos, do que filha de Zeus e Leda. Mexia facilmente com a fantasia dos homens, pois era a mais bela mulher da face da terra. Helena foi gerada quando sua mãe Leda, mulher do rei Tíndaro, estava tomando banho nua no rio Eurotas, do outro lado do Mar Egeu. Zeus não perdeu tempo, desceu do Olimpo e em forma de cisne, possuiu Leda sobre a relva. Naquela mesma noite, Leda deitou-se com seu marido, o rei Tíndaro de Esparta. Nove meses depois, Leda deu à luz aos quadrigêmeos: Helena e Pólux, filhos de Zeus, e Clitemnestra e Castor, filhos de Tíndaro.

Quando Helena tornou-se mulher, os príncipes e guerreiros da Grécia logo se candidataram para se casar com ela. Seu pai adotivo, o rei Tíndaro de Esparta, vendo que era inevitável o casamento, convocou todos os pretendentes a fazer um juramento: no caso de Helena ser raptada após o casamento por algum deles, todos os outros defenderiam o marido escolhido.

 

O CASAMENTO DE HELENA 

Precedentes.

Quando Helena tinha apenas 12 anos, sua beleza logo se tornou motivo de confusão. Foi o caso de Teseu, rei de Atenas, que invadiu Esparta e raptou Helena. Entretanto, seus irmãos Castor e Pólux, convocaram um batalhão de espartanos e devastaram Atenas até encontrar Helena e levá-la de volta à Esparta, nascia então a rivalidade entre Atenas e Esparta.

Mas, quando tornou-se mulher, Helena casou-se com Menelau, irmão de Agamênon, o poderoso e riquíssimo rei de Micenas. Em um torneio entre guerreiros que se candidataram pela mão de Helena, Agamênon venceu a luta e ofereceu o prêmio ao seu irmão Menelau.

Porém, esse casamento estava condenado pelo destino ao fracasso. Ou melhor, ao maior banho de sangue de todas as histórias da mitologia.

O CASAMENTO E PELEU E TÉTIS

Rottnhammer, Hans I. (1600). Festa dos Deus (O casamento de Tétis e Peleu)

Tétis era cobiçada por muita gente pela sua formidável beleza. Até Zeus por ela se apaixonou, e só não casaram, face à maldição de que “o filho de Tétis seria muito mais poderoso que o pai”.

Então, quando Helena ainda era uma garota, ocorreu o casamento de Tétis com Peleu, que era mortal e um dos argonautas, enquanto ela era filha do deus marinho Nereu. Essa união foi trágica. Tétis seria jovem e bonita para sempre, enquanto o mortal Peleu envelheceria como todos os homens.

Mesmo assim foi uma festa de arromba. O chefe do cerimonial era o centauro Quíron, que mandou convite para todo mundo, quer dizer, para todos os deuses e mortais.

A festança foi grande, e foi até que, pela última vez, deuses e mortais se sentaram lado a lado numa farra, no casamento mais badalado da mitologia. Tudo corria tranquilo e sem problemas, até o momento em que chegou uma figura que ninguém gostava chamada Éris, a deusa da discórdia.

Éris chegou à festa de penetra, pois o centauro Quíron não mandou convite para ela. Aliás, todos respeitavam os maléficos poderes de Éris, mas ninguém queria a sua companhia, pois era acostumada a fazer jogo sujo, semeando conflito e muita fofoca. Alguns achavam que ela era um mal necessário, pois sem brigas, a vida dos deuses e humanos seria um tédio.

Enquanto rolava a festa, Éris ficou isolada planejando estragar tudo, pois era especialista em arrumar confusão para os outros. Além disso, estava indignada de estar ali sem ser convidada.

Em dado momento, ela foi ao jardim das Hésperides e colheu uma maçã dourada, e com uma agulha, escreveu na casca da fruta as fatídicas palavras: “À mais bela”. Em seguida, voltou à festa e fez a maçã rolar até a mesa dos convidados. Zeus apanhou a maçã do destino e leu em voz alta a dedicatória. De repente o silêncio tomou conta do ambiente. Todos os olhares dos convidados voltaram-se às beldades divinas: Hera, Atena e Afrodite. Todas queriam o trono de mais bonita, e logo o assunto tornou-se disputa entre elas.

Zeus olhou pros lados e disse que não iria se meter naquela briga de mulher. Ninguém quis ser a árbitro desse concurso de miss universo da mitologia. Vamos que de repente uma tomasse a coroa da outra, seria notícia de “imprensa” do mundo todo.

Em meio ao burburinho dos convivas, ouviu-se alguém falar de um pastorzinho de ovelhas de coração puro chamado Páris. Rapidamente, Zeus tomou uma decisão e mandou que  julgasse qual seria a mais bonita.

O JULGAMENTO DE PÁRIS

GIORDANO, Luca (Artista). (1681). O Julgamento de Páris.

Páris era filho de Príamo, rei de Troia. Quando estava grávida de Páris, sua mãe, Hécuba, teve um sonho que dava à luz a uma tocha – e as chamas incendiavam toda cidade de Tróia. Um sacerdote previu a ela que a criança que estava em seu útero seria a desgraça de Troia. Por isso, tão logo nasceu, Páris foi entregue ao soldado Agesilau, para que o deixasse abandonado nas montanhas. Em vez disso, Agesilau entregou o recém-nascido a uma família de criadores de cabras, que o criaram nas encostas do Monte Ida. Seu nome de realeza dado por seus pais biológicos era Alexandre, Páris foi o nome que seus pais adotivos lhe deram. Cresceu e tornou-se belo demais.

De repente, num clarão de luz, aparecem na frente do rapaz as três candidatas, todas com a mesma pergunta: qual a mais bonita?

                                                                      As Três Marias – Hera – Athena – Afrodite

 

– Todas são lindas, não tenho como decidir, disse Páris.

As concorrentes apelaram por uma estratégia antiga: o suborno. A propina começou nessa primeira licitação na Grécia. Hera lhe prometeu o domínio sobre todos os povos da Ásia. Atena lhe transformaria no mais sábio homem da terra. Porém foi Afrodite quem lhe ofereceu a propina mais sedutora:

– Se me escolher, eu lhe darei o amor da mulher mais bonita entre os mortais – Helena de Esparta.

Na hora o pastorzinho de cabras aceitou, e escolheu Afrodite a mais linda de todas as deusas do Olimpo. Em contrapartida, ganhou o ódio de Hera e Atena. E mesmo sem saber, condenou Troia à destruição.

Quando isso aconteceu, Páris era um simples pastorzinho de ovelhas e não sabia de sua origem nobre. Vez por outra o soldado Agesilau aparecia para visitá-lo dizendo ser seu tio, mas nada revelava sobre o segredo de seu nascimento. Muitos anos se passariam para receber a recompensa prometida por Afrodite.

O PRÍNCIPE PÁRIS

Tempos depois do célebre julgamento, a origem de Páris foi revelada. O rei Príamo decretou os jogos olímpicos de Troia. Páris foi competir e venceu os príncipes Heitor e Deifobo, filhos do rei Príamo. Indignados com aquela derrota para um plebeu desconhecido, os dois príncipes estavam prestes a matar Páris quando Agesilau interrompeu a questão e revelou que aquele rapaz que vencera a corrida, era ninguém menos que o irmão caçula de Heitor e Deifobo. Os pais verdadeiros, rei e rainha, reconheceram-no como filho e o integraram ao palácio.

O ex-criador de ovelhas deixou para trás a pobreza das encostas do Monte Ida. Lá também deixou a ninfa Enone, que o amava. Enone era famosa por seus conhecimentos em ervas curativas. Entre lágrimas, profetizou ao amado: um dia, ele viria até ela em busca de ajuda, mas seria tarde demais.

Páris não deu mais importância para sua ex-amada, e chegando à Tróia esqueceu rapidamente seu primeiro amor. Da simplicidade ao luxo, Páris agora príncipe troiano, lembrou-se da promessa de Afrodite, pois meteu na cabeça que só seria feliz quando se casasse com a mulher mais bonita do mundo.

PÁRIS E HELENA (O encontro fatal)

O rei Príamo de Troia decidiu enviar uma embaixada ao rei Menelau de Esparta, casado com Helena. Páris pediu ao pai a honra de ser o chefe da embaixada, pedido consentido, partiu de navio para Esparta. Sua irmã caçula, Cassandra, chorava muito e profetizava:

– Ele nos trará a morte, o fogo e a ruína.

Ninguém suspeitava das reais intenções de Páris. O rei Menelau tratou o hóspede com o máximo de cordialidade. Tanto Menelau quanto seu irmão Agamênon queriam concretizar o domínio na Grécia, aliando-se à cidade mais gloriosa do mundo antigo – Troia. Nenhum deles poderia acreditar que a missão de Páris era apenas uma fachada.

Então, Afrodite não falhou na promessa. Tão logo foi apresentada a Páris, durante um banquete no palácio, Helena foi dominada por uma paixão fulminante. Páris viu o desejo nos olhos de Helena e teve certeza de que os poderes de Afrodite estavam dando certo. Daí ninguém mais segurou. Páris e Helena trocavam olhares apaixonados nos banquetes e conversas escondidas no palácio.

Para completar, Menelau teve que viajar para a cidade de Creta, onde havia falecido seu avô materno, Croteus. Imediatamente partiu para os funerais. Mal o rei Menelau deu as costas, Páris raptou Helena na calada da noite, levando-a para onde estava ancorado o navio troiano.

Helena se deixou levar, com uma mistura e medo e excitação. Quando o navio estava bem longe de Esparta, na noite seguinte, a mulher mais linda do mundo pertencia a Páris. O poder de Afrodite lhe dominou pela paixão. Helena foi para Troia, e, sem saber, condenou milhares de homens e mulheres à morte.

 

OS PREPARATIVOS PARA A GUERRA

Menelau e seu irmão Agamênon convocam todos os heróis e guerreiros da Grécia, em nome do juramento prestado ao rei Tíndaro, de que todos defenderiam o marido de Helena.

Foi organizado o maior exército de todos os tempos da mitologia grega, sob o comando e Agamênon.

Odisseu, Ajax, Nereu, Diomedes e outros, faziam parte da tropa de elite. Mas a grande estrela sangrenta foi Aquiles. Quando Agamênon conclamou toda a Grécia para a guerra, Aquiles tinha quinze anos apenas. Mas sua fama já começava a correr.

Um sacerdote por nome de Calcas, fizera uma profecia famosa: os muros de Tróia jamais cairão, a menos que o filho de Tétis e Peleu entrasse na guerra. Apesar de ter apenas quinze anos, ele tinha um insaciável desejo por fama e glória. O jovem príncipe reuniu o exército da Ftia, reino de Peleu, e preparou-se para partir. Seu pai, Peleu, brindou o filho com uma enorme lança de carvalho e uma armadura dourada, que havia ganhado de presente em seu casamento com Tétis. Aquiles fez questão de levar o seu primo e melhor amigo – Pátroclo.

Ao chegarem próximo à Troia, Aquiles caminhava na praia sozinho, quando de repente as águas do mar se encresparam, era sua mãe, Tétis, a deusa, que emergiu diante do filho, profetizando seu futuro.

– Meu filho, agora só existem dois caminhos. Pode escolher uma vida longa e pacata. Se for assim, morrerá no anonimato e logo será esquecido, mas terá o gosto da felicidade. O outro caminho leva à glória e também à morte. Se for à Troia, morrerá jovem, sua alma descerá à Mansão dos Mortos, mas sua lembrança viverá para sempre enquanto houver homens sobre a Terra.

– Morte e glória, disse ele.

– Você as terá, respondeu Tétis, mergulhando no mar, para ninguém vê-la chorar.

A MORTE DE IFIGÊNIA

A escolha de Aquiles, se fosse hoje, pareceria uma loucura. Mas, no mundo antigo, fazia sentido. Os gregos acreditavam que a vida humana era um breve momento perante uma eternidade de trevas.

Após a morte, a alma viajava para as sombrias regiões do Hades (profundezas da terra), onde perdia todas as lembranças. O espírito entraria para a eternidade em um estado de letargia. Só despertaria quando os vivos lhe oferecessem sacrifícios. É por isso que os gregos davam o máximo valor para o tempo em que viviam. Ou seja, enquanto vivos estivessem, faziam de tudo para que essa existência sobrevivesse para as gerações futuras. Daí, esforçavam-se ferozmente para serem heróis.

A esquadra grega estava pronta para rumar em direção à Troia, mas foi detida por uma calmaria que paralisou o Mar Egeu. Os navios gregos ficariam imóveis por vários dias. O plano de invadir Troia estava indo ao fracasso. Os soldados começavam a ficar impacientes com Agamênon e ameaçavam um motim.

O sacerdote Calcante foi chamado para explicar o fenômeno daquela maré de azar.

– A culpa é sua, Agamênon, pois você provocou a ira de Ártemis, a deusa-caçadora.

Nesse momento, Agamênon lembrou-se que havia matado uma corsa consagrada à deusa e de vangloriar-se desse feito.

No entanto, a causa mais provável foi que, durante uma cerimônia religiosa em Micenas, onde ele era o rei, Agamênon fez promessa solene à deusa Ártemis. Jurou sacrificar naquele ano em sua honra, a menina mais bela que nascesse em Micenas. Agamênon não sabia que sua esposa, Clitemnestra, estava grávida.

Quando nasceu a princesa Ifigênia, naquele mesmo ano, Agamênon não teve coragem de matar sua filha recém-nascida. Mas os deuses não esquecem, pior as deusas. Agora Ártemis deu a última palavra. Para Troia ser destruída, Ifigênia tinha que morrer.

Alguns chefes gregos já ameaçavam voltar, quando Menelau obrigou o irmão a enviar uma mensagem a Micenas, para trazer Ifigênia a pretexto de casar-se com Aquiles. Tudo falso. Ifigênia veio a Áulis, região onde estava a esquadra, acompanhada de sua mãe, Clitemnestra, ambas empolgadas com aquele casamento cobiçado.

No entanto, um soldado que sabia da farsa, contou tudo a Clitemnestra, imediatamente ela foi até Aquiles para implorar sua ajuda. Porém, Aquiles nada sabia daquela trama. Quase houve morte, pois ele não gostava muito de Agamênon. Aquiles pôs-se à frente de Ifigênia e desafiou seus compatriotas. Ocorreu uma confusão entre soldados e chefes. Porém Aquiles sabia que não resistiria muito. Os soldados pediam o sacrifício da moça.

O nascimento da Grécia estava prestes a se transformar num desastre. Nesse ínterim, Ifigênia interrompe em meio à balbúrdia, com a mão no ombro de Aquiles e dá o veredito:

– Guardem suas armas. Eu é que devo morrer hoje para salvar a Grécia, essa é a vontade dos deuses.

Então, sem mais palavras, caminhou até o altar de Ártemis, onde o sacerdote Calcas a esperava de adaga em seu punho. Daí, o sangue de Ifigênia jorrou.

A frota finalmente partiu, mas a morte deixou um rastro sombrio. Os soldados viram uma figura vestida de negro cavalgando para longe. Era Clitemnestra, a mãe de Ifigênia, de luto, voltando para casa com um único desejo: vingar-se de Agamênon, seu marido e pai desnaturado.

Além das tropas humanas, os deuses também entraram na guerra. Hera e Palas Atena estavam de lado dos espartanos para destruir Troia, como vingança do troiano Páris ter escolhido Afrodite como a mulher mais bonita do mundo, na festa de casamento de Peleu e Tétis. Enquanto Afrodite, claro, estava com os troianos do seu protegido Páris. Quem também participou da guerra foram Apolo, Zeus e Posseidon, mas não se definiam. Ora para um lado, ora para outro.

O CALCANHAR DE AQUILES

 

Quando Aquiles nasceu, sua mãe, a deusa Tétis, o levou até as margens do rio Estige, que é um dos rios que corre nas profundezas da terra, conhecido por Hades, o mundo dos mortos. Segurando-o pelo calcanhar, Tétis mergulhou o bebê nas águas do rio, para que se tornasse invulnerável o seu corpo. De fato a única parte do seu corpo que ficou fora da água foi o calcanhar, onde sua mãe lhe segurou (Aquiles tinha o corpo fechado!).

 

COMEÇA A GUERRA

A imensa frota grega composta de 1.133 navios, finalmente aportou numa ilha próximo à Troia. Agamênon mandou uma embaixada a Troia, formada por Odisseu, Menelau e Diomedes. Levavam um ultimato: os troianos teriam que entregar Helena e pagar impostos absurdos que levaria Troia a falência ou lutar até a morte.

A embaixada voltou com uma resposta curta e grossa: “Não”. Eles não permitiriam ser extorquidos, o povo da cidade gostava dela, o sogro de Helena, o rei Príamo, lhe adorava, sem falar na louca paixão por Páris. Além do mais o rei Príamo também havia raptado sua esposa Hécuba, mãe de Páris. Troia era uma cidade conhecida por valorizar a vontade e decisões das mulheres.

FILOCTETES, O ABANDONADO

Enquanto aguardavam o retorno dos emissários, o arqueiro Filoctetes foi dar uma caminhada nos rochedos da ilha de Tênedo. A deusa Hera, mulher de Zeus, do alto assistia a tudo e naquele momento aproveitou-se para vingar-se da amizade de Filoctetes com Héracles. A rainha dos deuses fez com que uma cobra venenosa mordesse a perna de Filoctetes.

A perna inchou-se e apodreceu. Atormentado pelos deuses, passava as noites gritando e delirando de dor. Vendo que aquele homem sofria demais, Agamênon abandonou Filoctetes numa ilha vizinha. Com o tempo a perna sarou, porém ficou manco e vivendo como eremita na solidão, amargando um profundo rancor contra seus compatriotas que o deixaram degredado.

Jamais imaginava, o solitário Filoctetes, que seus amigos um dia voltariam implorando seu perdão e ajuda.

Alguns dias após a partida da embaixada, Troia foi despertada pelos sentinelas. Multidões correram para o alto das muralhas, onde o mar estava repleto de navios. Enfim, os gregos não estavam blefando. Os portões de Troia se abriram e uma tropa de cavaleiros disparou rumo ao litoral, sob o comando daquele que seria o maior inimigo dos gregos nos dez anos seguintes: Heitor, o filho mais velho de Príamo.

Era um guerreiro tão valoroso e um homem tão honrado que sua memória seria cantada, séculos depois, pelos descendentes de seus próprios inimigos.

Tão logo chegou à praia, Heitor ficou intrigado. Os navios gregos estavam parados, a alguns metros da arrebentação das ondas. Nenhum inimigo desembarcou. É que mais uma vez a profecia amedrontou os gregos. Acreditava-se que o primeiro soldado a pisar nas areias de Troia, seria morto no mesmo dia. Espertamente, Odisseu jogou seu escudo na água e pulou sobre ele, com todo o cuidado para não encostar nenhum pouquinho na areia. Protesilau, rei da Filácia, pensou que Odisseu estivesse desembarcado, e saltou à praia, afundando até os tornozelos nas dunas salgadas.

A cavalaria troiana avançou sobre ele. O rei Protesilau derrubou vários troianos, mas a lança de Heitor foi fatal e morte certa. Em questão de poucos minutos, Heitor massacrou dezenas de gregos. Entretanto, a morte de Protesilau encorajou as tropas gregas a um desembarque maciço, tendo ocorrido a primeira batalha entre gregos e troianos, chegando ao fim sem conclusão.

O príncipe Heitor, vendo a superioridade numérica grega, bateu em retirada rumo aos portões da cidade, onde estavam bem protegidos pelas muralhas. Por sinal, construídas pelos deuses Posseidon e Apolo.

 

Diante de tudo isso, Agamênon e seus heróis sabiam que as muralhas de Troia eram inexpugnáveis. Seria loucura atacar os altíssimos muros da imponente Troia. O jeito então era vencer os troianos pelo cansaço. Ergueram uma paliçada para proteger seus navios, construíram um acampamento e lá ficaram. Nesse impasse, passaram-se nove anos.

Durante todo esse tempo, os gregos saquearam cidades vizinhas e aliadas a Troia, como Lesbos e Antandros, deixando palácios em chamas e raptando mulheres.

Agamênon sequestrou Criseida, filha de Crises, um sacerdote de Apolo. Aquiles raptou Briseis, rainha da cidade de Lirnesso, ambas enviadas por Afrodite. Aquiles se apaixonou pela raptada. E essa nova paixão também trouxe consequências fatais tanto para gregos quanto para troianos.

A DESERÇÃO DE AQUILES

Na primavera do décimo ano, os rumos da guerra começaram a virar. Enfurecido pelo rapto de sua filha, o sacerdote Crises implorou a ajuda de Apolo. Deu certo. O deus Apolo lançou setas mortais contra os exércitos gregos. Durante nove dias, uma praga devastou os guerreiros. Suspeitando da origem daquela peste, os soldados exigiram que Agamênon devolvesse Criseida a seu pai. Agamênon não gostou de ser instado pelos subordinados.

Muito chateado com isso, resolveu descontar a raiva em Aquiles, exigindo que lhe entregasse a rainha Briseis, daí então libertaria Criseida. Ou seja, era um toma lá dá cá de mulheres raptadas. Muito irritado, Aquiles entregou Briseis a Agamênon.

Daí, com a moral baixa perante a tropa, Aquiles se retirou da guerra e abandonou o exército grego.

PÁRIS E MENELAU

Desde o começo da guerra, a defesa de Troia foi liderada por Heitor, filho do rei Príamo. Ao saber que Aquiles desertara do exército, Heitor aproveitou o momento para contra-atacar. Pela primeira vez em dez anos os portões de Troia se abriram, despejando um exército massacrante. Os gregos foram cercados e a batalha dava vitória aos troianos.

Em meio ao combate, destacou-se uma figura, que até então estava afastado da guerra. Era Páris, vez que seu irmão Heitor lhe chamou:

– Páris, por que te escondes no quarto da tua mulher? Tu és incapaz de olhar nos olhos do homem que desonrastes?

O desprezo nas palavras do irmão tocou nos brios do valente Páris, e na tarde daquele dia, avançou para os campos de batalha. Afinal, Menelau cruzou o mar para vingar-se de Páris.

Finalmente encontraram-se, cara a cara, Páris e Menelau, ambos com sede de matar. Principalmente Menelau, traído por Páris. Menelau avançou de espada em punho. Entretanto, antes que o combate começasse, Heitor e Odisseu interromperam a luta propondo uma trégua. Todos concordaram, pois aquela guerra não tinha fim, e já havia morrido gente demais.

Ficou acertado que haveria um duelo entre Menelau e Páris, o vencedor ficaria com Helena e a guerra acabaria, sem morrer mais ninguém.

 

O combate começou, dois heróis lutando pelo amor de uma mulher. A lança de Páris fica no escudo de Menelau e a espada do rei de Esparta derruba o príncipe troiano, que cai ferido ao chão, instante em que Menelau agarrou-o pelo capacete e passou a arrastá-lo em direção às linhas dos soldados gregos. Com os cordões do elmo estrangulando o pescoço, Páris desmaiou.

A guerra de Troia teria chegado ao fim naquele momento. Vendo seu protegido à beira da morte, Afrodite desceu ao campo de batalha envolta numa nuvem de vapor e arrebatou Páris de volta a Troia.

Parecia que o fim tinha chegado. Menelau ficava atônito procurando o inimigo que acabara de vencer. Porém, a desgraça se abateu sobre a sorte. Um arqueiro troiano chamado de Pândaro dispara uma flecha em Menelau, acertando-o de raspão. O suficiente para escorrer sangue. A trégua foi rompida e a guerra continuou.

A Guerra de Tróia – Parte 2

HEITOR E AJAX

Heitor sabia que aquela guerra era inútil e que um dia Troia iria desaparecer. Ele tentou pôr fim naquilo. Propôs nova trégua e desafiou os gregos para mandar o seu maior herói para um duelo. A sorte recaiu sobre o gigante Ajax.

O combate durou várias horas. No início da noite, Heitor e Ajax, extasiados e lavados de sangue pararam de lutar, caindo cada um pra seu lado. O resultado foi um justo empate. O duelo mais longo criou um laço de respeito e conhecimento mútuo entre os contendores.

Os dois inimigos trocaram elogios e presentes. Separaram-se como amigos, embora soubessem que no dia seguinte a guerra recomeçaria.

Na troca de presentes, Ajax deu a Heitor um suntuoso boldrié de cor púrpura. Heitor presenteou Ajax com sua espada de bronze marchetada de ouro.

A MORTE DE PÁTROCLO

Os gregos estavam sendo devastados pelos troianos. Heitor cercou as tropas. Nem Diomedes nem Ajax foram capazes de deter o avanço inimigo. Agamênon e Odisseu foram feridos e postos fora de combate.

Sem suas embarcações, os gregos estavam perdidos. Heitor estava incendiando as posições inimigas já próximo à esquadra.

Com Aquiles afastado dos combates, Pátroclo, seu primo, roubou sua armadura, mesmo a contragosto de Aquiles. Pensava Pátroclo que os troianos, quando vissem a legendária armadura de Aquiles, recuariam com medo.

Heitor encarou aquele que poderia ser o herói Aquiles. Daí entrou em cena o deus Apolo, fazendo com que Pátroclo perdesse o equilíbrio, momento em que sentiu na barriga a lança de bronze de Heitor. Para surpresa do troiano, não era Aquiles quem ali estava.

 

O RETORNO DE AQUILES

Ao receber a triste notícia da morte de Pátroclo, seu primo e melhor amigo, Aquiles se transformou numa fera indomável. Toda a admiração que tinha por Heitor transformou-se em ódio mortal, porque sabia que Pátroclo morrera por sua culpa, e voltou ao campo de batalha.

O herói deixou de lado as desavenças com Agamênon, e reuniu os gregos. Enquanto isso, sua mãe, a deusa Tétis, foi até as profundezas da terra e pediu a Hefesto, o ferreiro dos deuses, que fizesse para Aquiles uma nova armadura e um novo escudo. Tão logo recebeu seu equipamento, Aquiles partiu para os combates.

AQUILES E HEITOR

Encontraram-se os dois grandes heróis. Depois de uma luta muito acirrada entre ambos o único ponto mortal era o pescoço de Heitor, e, valendo-se dessa vulnerabilidade do inimigo, a azagaia do grego entrou pela garganta e saiu na nuca do troiano. Heitor tombou morto e seu espírito desceu à Mansão dos Mortos, lamentando sua família não somente por sua juventude, mas também pela iminente queda de Troia. Aquiles relatou que Heitor foi o guerreiro mais honrado e habilidoso que ele enfrentou em vida.

PRÍAMO E AQUILES

Vingativo, Aquiles amarrou os pés de Heitor com o boldrié púrpura que este ganhara de Ajax, e arrastou o corpo ao redor das muralhas de Troia. Fez isso por dias seguidos ao redor do túmulo de Pátroco. O deus Apolo, entretanto, não deixou que o cadáver de Heitor entrasse em decomposição, pois os deuses queriam um enterro digno para o maior dos troianos.

Certa noite, quando o acampamento grego estava dormindo, o deus Hermes levou o rei Príamo até Aquiles. Devastado pelos anos de guerra, de perdas humanas e sofrimentos, o rei troiano viera implorar que o herói grego entregasse o corpo de seu filho Heitor. De joelhos pediu a Aquiles, na mais célebre cena da história da mitologia antiga:

– Para que Heitor tenha o funeral que merece, farei agora o que ninguém jamais faria: vou beijar a mão do homem que matou meu filho.

A coragem daquele homem, que viera sozinho à tenda do seu pior inimigo, pareceu a Aquiles muito mais impressionante que a bravura dos gregos. Aquiles mandou que seus soldados lavassem o corpo de Heitor e o ungissem com óleo. Depois, escoltou o rei Príamo até o território troiano e concedeu-lhe uma trégua de doze dias para que a cidade celebrasse os funerais do grande Heitor.

A MORTE DE AQUILES

Moira, a deusa do destino, como assim fora no nascimento da Grécia e na queda de Troia, novamente entra em ação. Ela havia decidido que Aquiles deveria acompanhar Heitor. Embora Aquiles já tivesse se arrependido daquela guerra, não dava mais para voltar atrás. O destino estava marcado.

Em vez de combater, Aquiles sempre estava no templo de Apolo Timbriano, que era uma singela construção nas proximidades de Troia, considerado território neutro. Lá, gregos e troianos, às vezes, se encontravam quando iam fazer preces e oferendas.

Numa dessas ocasiões, Aquiles avistou Polixena, filha do Rei Príamo. Foi amor à primeira vista. Aquiles ficou tão apaixonado, que chegou a se oferecer ao rei Príamo para combater ao lado dos troianos contra os próprios conterrâneos gregos, se Polixena se casasse com ele. O rei troiano aceitou.

 

Acontece, entretanto, que tanto Polixena quanto seus irmãos guardavam ódio mortal sobre aquele homem que havia matado seu irmão Heitor. Aproveitaram-se dessa oportunidade para se vingar. Os dois se encontravam sempre no Templo de Apolo. O envolvimento foi intenso, até que Polixena conseguiu de Aquiles a revelação mais importante: o herói grego lhe confidenciou que o segredo de sua imortalidade estava no seu calcanhar.

O matrimônio estava pronto, faltava apenas a celebração do casamento, que se realizaria no próprio Templo de Apolo. Aquiles veio sozinho e desarmado. Talvez não desconfiasse das reais intenções de sua noiva, mas o certo é que o grego cumpriu o pedido de sua amada. Lá estava a família de Polixena, ocasião em que Deifobo, irmão de Polixena e Heitor, deu-lhe um forte abraço, dissimulando recebê-lo como novo membro da família.

Naquele instante, estava selado o destino do mais famoso herói grego. Páris, que estava escondido de tocaia atrás da estátua de Apolo, dispara uma flecha envenenada e certeira no calcanhar de Aquiles. Odisseu, Ajax e Diomedes, que haviam seguido Aquiles por desconfiança, foram em seu socorro. Era tarde, o veneno mortal faz o mais poderoso dos gregos morrer nos braços de Diomedes.

Naquela noite, o corpo se Aquiles foi entregue a sua companheira Briseis que, mesmo sabendo que fora trocada por Polixena, cuidou das honras funerárias do amado. Esfregou os cabelos no corpo, lavou-lhe as feridas e preparou as chamas da pira de cremação.

Naquela mesma noite a alma de Aquiles desceu às profundezas da terra (Hades), onde o esperavam Pátroclo e Heitor. E as profecias iriam se cumprir uma a uma.

O SUICÍDIO DE AJAX

Após a morte de Aquiles, os gregos passaram a questionar quem seria seu sucessor. Ficou decidido que essa honraria caberia ao guerreiro mais temido pelos troianos. Agamênon enviou espiões às muralhas de Troia para descobrir qual seria o grego mais temido. Daí veio a surpresa, não era o gigante Ajax, que empatou na luta contra Heitor, mas sim Odisseu, que era o mais inteligente daquela guerra.

Diomedes se resignou, porém Ajax, sentindo-se ferido em seus brios, saiu em direção a um lugar ermo, longe das vistas de seus companheiros e suicidou-se, exatamente com a espada que, meses antes, Heitor lhe dera de presente, após a luta sem vencedor.

Após a morte de Aquiles e Ajax, os gregos começaram a se preocupar. A guerra estava no fim do décimo ano. Troia continuava em pé e com toda força. O vidente Calcas lançou a sorte. Troia seria destruída somente quando os gregos tivessem em seu poder as flechas de Héracles que Filoctetes amaldiçoado por Hera detinha.

 

Só então Agamênon se lembrou do abandonado Filoctetes. Mandou Diomedes e Odisseu buscá-lo de volta. O moribundo Filoctetes recebeu a visita de Héracles em espírito, que lhe disse que sua ferida na perna seria totalmente curada, se aceitasse voltar para a guerra.

Assim, Filoctetes embarcou rumo a Troia, com dez anos de atraso. Sua perna foi sarada totalmente por Macaôn e Podolírio, filhos de Esculápio, deus da medicina, que tinham chegado da Grécia para ajudar na guerra.

A MORTE DE PÁRIS

Filoctetes, o melhor arqueiro da Grécia, protegido pelo semideus Héracles, desafiou Páris para um duelo. As flechas de Filoctetes eram envenenadas pelo sangue da Hidra de Lerna, morta por Héracles. Filoctetes as havia ganhado de presente do seu amigo Héracles.

Começado o duelo, o homem que raptou Helena é morto pelas flechas de Filoctetes. Logo se juntaria a Heitor, Aquiles e Ajax no Hades.

A MORTE DE PÁRIS E A VIÚVA HELENA

Entretanto, para destruir Troia, ainda faltava mais uma coisa. O vidente Calcas exortou aos gregos que o fim de Troia só aconteceria quando o sagrado Paládio, que estava em um lugar secreto da cidade, fosse retirado de lá. Sem isso, as muralhas de Troia seriam invencíveis.

Novamente, Helena aparece noutra tragédia humana. Com a morte de Páris, seus irmãos Helenus e Deifobo disputaram o amor da viúva. Helena escolheu Deifobo, o irmão mais velho de Páris. Helenus, com desgosto daquilo, afastou-se da cidade e foi viver sozinho nas encostas do Monte Ida. Lá os gregos o capturaram numa emboscada, e sob tortura, revelou onde o Paládio estava escondido.

Alguns dias depois, Odisseu conseguiu entrar num portão de Troia, disfarçado de mendigo. Naquela noite, roubou o Paládio, depois de matar os guardas. Além disso, teve a ideia de acabar com aquela guerra, da forma mais traiçoeira, com um presente inimaginável.

O CAVALO DE TROIA

Certo dia, do alto das muralhas da cidade, os guerreiros perceberam que os gregos tinham ido embora. Tudo estava sob chamas, os acampamentos do exército grego ardiam em cinzas fumegantes. Todos os navios haviam zarpado. Sobre as dunas somente um gigante cavalo de madeira. Ao se aproximarem daquele estranho artifício, os troianos aprisionaram um soldado chamado de Sínon, que dizia ser desertor dos gregos. Mas tudo não passava de uma armadilha.

O cavalo de madeira era muito grande e não passava nos portões da cidade. Os gregos deixaram esse “presente”, como oferenda à deusa Atena, cujo apoio eles haviam perdido. Para entrar com o cavalo na cidade, os troianos derrubaram parte dos portões. Entretanto, tiveram o cuidado de reparar de imediato a parte derrubada.

Na noite daquele dia, a cidade dormia, após ter festejado a “fuga” dos gregos. Foi então que Sínon, aquele que fingia ser desertor do exército grego, abriu um alçapão secreto na barriga do cavalo. Os soldados ali escondidos correram em silêncio pelas ruas adormecidas, abriram os portões para a invasão do exército grego, que se encontrava escondido na ilha de Tênedos.

A cidade foi tomada de assalto. As casas foram invadidas e as torres e palácios foram incendiados. O rei Príamo e parte de seus filhos foram mortos.

Cassandra, filha o rei Príamo, foi estuprada no templo da deusa Atena, por um soldado grego chamado de Ajax, o pequeno. Prenúncio de maldições.

O REENCONTRO DE HELENA E MENELAU

Troia incendiava, a resistência enfraquecia e o exército grego dominava a cidade. Menelau procurou até encontrar a mulher que o traiu. E finalmente a encontrou pelas ruínas do palácio em chamas. De espada em punho, estava a ponto de decepar-lhe a cabeça pela infidelidade causadora da mais sangrenta guerra, quando num instante a filha de Zeus e de Leda, teve sua vida preservada pelo instinto de mulher.

Ao ver Menelau, Helena sabia que ia morrer. Numa fração de segundos, abriu suas vestes e mostrou o corpo e os seios mitológicos. Helena lá tinha quase cinquenta anos à época, mas as gotas de icor em suas veias lhe conservavam a adolescência. Menelau, ao ver sua maior paixão, baixou a espada e pegou Helena pelos braços e levou-a de volta à Esparta, onde Helena passou o resto da vida entre remorsos e saudades.

 

O TRÁGICO RETORNO DOS VENCEDORES

No caminho de volta para a Grécia, vieram os desgraçados do destino. Embora não gostasse dos troianos, a deusa Atena repudiou o estupro de Cassandra em seu altar. Daí quando o navio do estuprador Ajax, o pequeno, se aproximava da região da Lócrida, ela mandou uma tempestade. O navio afundou, mas Ajax, o pequeno, não morreu, vez que era exímio nadador. Ao chegar salvo a terra, subiu num penhasco e de lá gritou:

– Nem mesmo os deuses podem me matar.

Enfurecido com os insultos, Posseidon emergiu das profundezas e transpassou o pequeno Ajax com seu tridente mortal.

Odisseu mesmo após sua estratégia do Cavalo de Troia ter lhe concebido a vitória, estava amaldiçoado e morto por dentro logo após Agamênon obriga-lo a matar o filho recém nascido de Heitor, herdeiro de Troia.

O TRISTE FIM DE AGAMÊNON

Outros líderes encontraram a morte quando chegaram em casa. Foi isso mesmo o que aconteceu com o maior vencedor da Guerra de Troia.

Agamênon retornou ao reino de Micenas, levando Cassandra, filha de Príamo, como sua concubina. Entretanto, sua esposa verdadeira, Clitemnestra, lá estava. Não foi fácil para ela, pois além do marido voltar para casa trazendo uma amante, Clitemnestra jamais o perdoou pelo sacrifício de sua filha Ifigênia, morta na frente dela e do pai, para os gregos vencerem a guerra de Troia.

Daí, no mesmo dia em que o marido chegou em casa, ela preparou uma surpresa fatídica, com a ajuda de um amante chamado Egisto, primo de Agamênon. A rainha Clitemnestra preparou-lhe um banho quente e relaxante com ervas aromáticas. Sem nada desconfiar, Agamênon tomaria o último banho de sua vida.

Bastante relaxado na banheira, sob os carinhos de sua mulher, Agamênon mergulhou e fechou os olhos. E, no instante em que ia se levantando, Clitemnestra jogou uma rede sobre seu corpo nu, prendendo-lhe braços e pernas. Nesse ínterim, Egisto saiu do esconderijo e cravou-lhe um punhal nas costelas.

Clitemnestra foi ainda mais longe, com Agamênon fora de combate, pegou um machado e dilacerou o corpo do marido. Agamênon foi morto no aconchego de seu lar.

Além de Ifigênia, Clitemnestra e Agamênon tinham outros dois filhos, Orestes e Electra, que eram pequenos quando sua irmã Ifigênia fora morta e mal se lembravam dela. Por essa razão, os dois irmãos ficaram horrorizados com a brutal morte do pai.

Egisto casou-se com Clitemnestra e tornou-se rei de Micenas. Entretanto, com medo de ser deposto, mandou o pequeno Orestes para o exílio. Anos depois, Orestes voltou disfarçado e, com a ajuda de sua irmã Electra, entrou no palácio.

O MATRICÍDIO DE CLITEMNESTRA

Essa morte foi um dos maiores conflitos trágicos da mitologia grega. Para vingar a morte o pai, Orestes chegou aos aposentos reais e encurralou os assassinos de seu pai, e matou sua própria mãe.

Contudo, a tragédia profetizada ainda não se completara. Orestes tornou-se rei de Micenas. Tempos depois, passou a coroa para seu filho, Tisamenos. Nessa época, um grande exército invadiu a cidade de Micenas.

Esses povos invasores eram os Heráclidos. Liderados por Aristômacos, neto de Héracles, que chegaram para resgatar a herança de seu antepassado. Aristômacos matou Tisamenos, neto de Agamênon, o Rei dos Heróis. E assim, desapareceu da face da terra para nunca mais ressurgir, a linhagem do vencedor da Guerra de Troia.

 

ENÉIAS E A FUNDAÇÃO DE ROMA

Na Guerra de Troia, Eneias foi um corajoso guerreiro troiano que recebia a proteção dos deuses. Filho de Afrodite e o mortal Anquises, sua mãe o salvou na luta com Diomedes e Poseidon o salvou da morte na luta com Aquiles. Com a queda de Troia, sua mãe o aconselhou a deixar a cidade levando consigo sua família, pois estaria reservado a ele o destino de fazer reviver a glória troiana em outras terras.
Sob a proteção de Afrodite, Eneias deixou a cidade de Troia que foi incendiada pelos gregos junto com vários soldados, sua esposa Creusa, o filho Iulo ou Ascânio e seu velho pai Anquises que ele carregou nas costas. Porém durante o caminho sua esposa desapareceu sem deixar vestígios e ele embarcou em um navio navegando pelo Mar Mediterrâneo em busca de uma nova pátria.
Na Ilha de Delos o oráculo o aconselhou a seguir para a terra de seu primeiro antepassado. Somente seu pai Anquises poderia guiá-lo através dessa viagem à procura das terras do Rei Teucro que vivera em tempos remotos na Ilha de Creta, cuja filha Bátia se casara com Dárdano pai do Rei Tros, fundador de Troia.
Ao aportar em Creta, imediatamente eles começaram a construir a cidade de Pergamo; lavraram a terra e semearam. Quando tudo parecia brotar, inesperadamente uma seca arruinou as colhetas além de desencadear uma epidemia. Anquises interpretou isto como um sinal evidente da desaprovação divina e aconselhou Eneias a voltar ao templo de Apolo para receber novas instruções do oráculo.
Na véspera da partida Eneias recebeu a instrução de que deveria ir ao local de origem de Dárdano, antes chamado Hespéria e hoje a Itália. Anquises lembrou-se da profecia de Cassandra de que uma nova Troia seria erguida na Hespéria. Na época todos achavam que ela estava louca, mas agora tudo fazia sentido.
Prosseguindo a viagem eles enfrentaram muitas dificuldades, inclusive o ataque das Harpias que eram mulheres vampiras com o corpo metade humana-metade pássaro. Fugindo delas eles chegaram a Épiro, nas terras de Heleno e tiveram instruções para seguir viagem. Quando chegaram à ilha do Ciclope Polifemo, salvaram Aqueménides que se perdera dos Argonautas. Anquises que já era bem velho, morreu antes deles deixarem a Sicília.
A partir daquele instante Eneias não poderia contar com a experiência de seu pai. Aportando em Cartago, Eneias se tornou amante de Dido, rainha e fundadora da cidade africana. Porém não era ainda esse o seu destino final. Hermes, enviado por Zeus, o aconselhou a partir daquela cidade e ir em busca da construção de sua nova cidade.
Ao aportar na Itália Eneias foi para o Lázio onde Latino, rei do Lázio, ofereceu-lhe terras e a mão de sua bela filha Lavínia. Ela era prometida a Turno, Rei dos Rútulos, porém havia uma profecia que Lavínia deveria casar-se com um estrangeiro para assim dar origem a uma raça poderosíssima que governaria o mundo.
Vendo-se na iminência de perder a princesa prometida e em consequência o reino, Turno declarou guerra a Eneias e aos seus troianos. Porém o Rei Latino interviu, sugerindo um combate apenas entre Eneias e Turno. O vencedor se casaria com Lavinia. Eneias venceu Turno e casou-se com Lavinia. No entanto abdicou do trono a favor do seu filho Iulo e voltou para reconstruir Troia.
Após a morte de Eneias seu filho Iulo fundou Alba Longa. Seus descendentes foram reis sucessivos e quase 400 anos depois Reia Silvia, filha de descendentes de Eneias, deu a luz aos gêmeos Rômulo e Remo que fundariam Roma no ano 753 a.C. Assim como havia sido previsto por Afrodite, nasceria o Grande Império Romano.

 

Veja também:

Deusa Hera – Mitologia Grega

Deusa Athena – Mitologia Grega

Deusa Afrodite – Mitologia Grega

 

 

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44 thoughts on “Helena – A Guerra de Tróia

    1. Comecei a ler e achei interessante comentar sobre alguns aspectos!
      Sobre o poder da Kundalini se manifestando desde o início das histórias.
      O fato de deuses e homens não se importarem tanto com as discórdias causadas por Éris, pois achavam tedioso que não houvesse movimentação, mesmo sendo com “brigas” entre eles.
      E o fato de alguns deuses escolherem ter glória e morrer cedo do que serem pacatos mas tivessem longa vida, queriam deixar seu nome registrado e lembrado: o fato de querermos ser eternos. Tudo isso o Bob explica na Escola e concilia com as sensações e cores dos 7/12!

      Vou terminar de ler e trazer mais alguns feedbacks interessantes que encontrar!

      Gratidão pelo lindo e elaborado post!

      Luz p’ra nós ✨🙏💜

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