Lila Cruz: quando arte e autocuidado se encontram

Cássia 20
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Aline Cruz, ou Lila Cruz, é de Salvador (BA), começou a ilustrar em 2012 e a divulgar o seu trabalho no Instagram desde então. Foi através da rede social que seu trabalho se espalhou pelo mundo e, hoje, encanta milhares de pessoas, todos os dias, com mensagens de autocuidado e relaxamento. Publicou seu primeiro zine em 2013, e em 2015 lançou o Projeto Quadrada, com três revistas: AnsiedadeDesnuda e Nostálgica. Por conta disso, acabou montando sua própria editora, a Quadrada, que se tornou uma marca de produtos na área da ilustração.

Em entrevista à Domestika ela conta como funciona seu processo criativo, quais são suas referências, ferramentas favoritas e o que guia sua obra.

 

Lila Cruz

 

Como começou sua carreira de ilustradora?

Sou jornalista formada e meu perfil no Instagram era bem comum, postava foto da minha gata, de comida e essas coisas normais. Sonhava ter uma carreira de ilustradora, mesmo sem saber o que isso significava. Eu trabalhava numa assessora de comunicação focada em dados e economia. Comecei a postar no Instagram, mas sem levar muito a sério e lá para 2015, mais ou menos, comecei a focar mais na ilustração e viajar para eventos. Fiz meu primeiro financiamento coletivo, passei a participar de muitos eventos, fazer quadrinhos, dar oficinas e, por um tempo, minha carreira foi nesse ritmo.

Dei palestras sobre publicação independente, afinal acabei fazendo tudo sozinha, montando uma mini gráfica em casa. Fui sentindo a necessidade de estudar mais ilustração e percebi que gostava muito mais disso, pois minha pira mesmo é ilustração. Fazer quadrinhos é bem diferente de ilustrar, pois o quadrinho precisa de uma história, uma narrativa. Na ilustração você pode fazer um quadro só.

Gosto da ideia de ilustrar livros, criar capas. Essa era minha paixão e ficava tentando entrar no mercado. Hoje, olhando para trás, vejo como eu ainda não estava pronta, estava muito verde. Um marco para minha carreira é o fato da ilustração ter me proporcionado viajar bastante pelo Brasil dando minhas aulas, palestras para adultos e crianças. Esse processo me fez amadurecer bastante, afinal eu precisava viajar sozinha, embora meu marido me acompanhasse às vezes. Me tornei referência em publicação independente sendo uma mulher negra nordestina. Foi quando comecei a ilustrar capas de livros, quando vim para São Paulo, que decidi fazer da ilustração o meu trabalho e passei a postar todos os dias em meu perfil do Instagram. Isso fez com que o número de seguidores aumentasse absurdamente. Ilustrei uma capa de Macunaíma para a Melhoramentos que foi selecionada para a Feira do Livro de Bolonha em 2018. Desde então, meu trabalho com editoras cresceu.

 

Lila Cruz: quando arte e autocuidado se encontram 5Ilustração de Macunaíma, feita para a editora Melhoramentos, selecionada para a Feira do Livro de Bolonha em 2018. Lila Cruz

 

Lila Cruz: quando arte e autocuidado se encontram 6Ilustração de Macunaíma, feita para a editora Melhoramentos. Lila Cruz

 

O que é ilustrar para você?

Quando estou trabalhando num livro infantil, quero ilustrar a história de um jeito meio cinematográfico, construir essa atmosfera que segue junto com o texto. É como construir uma fantasia para as pessoas, transformar a fantasia do leitor num filminho que passa na cabeça durante a leitura. É um processo de dar mais ferramentas para a pessoa criar esta imagem na cabeça dela, algo que complementa o texto.

 

Como funciona seu processo criativo?

Como os prazos para ilustração costumam ser curtíssimos, meu processo criativo é totalmente baseado no desespero e minha cabeça vai funcionando no automático, pegando os aspectos mais importantes do texto e transformando em imagens. Vou também tentando criar uma conexão com os personagens. Dias atrás vi uma artista dubladora e ela tem que criar a dublagem de vários personagens, contar histórias desses personagens e criar uma voz. Quando estou lendo um livro, sempre tento criar personalidades para cada personagem, imaginando o que gosta de vestir, os cenários da história, se é uma história feliz ou triste, as pessoas que vivem com o personagem… Enfim, a ideia é traduzir em imagens o que estou lendo.

 

Lila Cruz: quando arte e autocuidado se encontram 9Lila Cruz

 

Além disso, faço muitos boards no Pinterest com ilustrações que gostei e no Instagram faço o mesmo, salvando visuais diferentes, referências, artistas que admiro, etc. É um bom recurso, porque, sempre que preciso, vou buscar nesses lugares inspiração para uma textura diferente ou uma planta diferente, já que adoro plantas, ou até mesmo um ambiente. Uso essas redes sociais para buscar referências.

 

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Quais artistas você admira e recomenda?

Gosto de muitas artistas, mas as que estão na cabeça agora são Bianca Pinheiro, Camila Rosa, Eva Uviedo, Samanta Flôor, que também é tatuadora e tem um trabalho incrível.

 

Quais os temas mais recorrentes na sua obra?

O autocuidado faz parte do meu trabalho, pois gosto de falar sobre cotidiano, sobre o meu cotidiano, para gerar uma identificação com as pessoas. Gosto de criar ilustrações e quadrinhos que envolvam relaxamento, uma menina sentada tomando um café e curtindo um livro, sabe? É uma forma de tentar dar um relaxamento para as pessoas. Costumo criar também muitas ilustrações sobre receitas, adoro desenhar receitas temáticas. O meu tipo de temática, então, é cuidar da sociedade e cotidiano.

 

Lila Cruz: quando arte e autocuidado se encontram 14Lila Cruz

 

O que é criatividade para você?

Para mim, criatividade tem a ver com consumir conteúdos diversos e isso vai gerando uma movimentação. Afinal, quando a gente só consome a mesma coisa o tempo todo – ou quando ficamos bitolados num tipo de coisa -, só jogando videogame ou só lendo notícias, a coisa não flui. É importante também não fazer nada, para que essa criatividade possa fluir. Enfim, uma junção de coisas.

 

Você acredita que existe bloqueio criativo?

Sim, acredito em bloqueio criativo, mas acredito que tem a ver com a saúde mental da gente, que varia muito, né?Isso acontece quando estou triste, por exemplo, ou quando não consigo desligar tão fácil para poder desenhar minhas coisas. Claro que consigo fazer todos os trabalhos que estou sendo paga, mas para fazer as minhas coisas às vezes rola um bloqueio criativo. O que eu faço é partir para estudar, ler, acompanhar outros artistas e costumo acompanhar muitos ilustradores infantis… É com isso que consigo dar uma desbloqueada para pintar e fazer outras coisas que não exigem algum tipo de postagem no Instagram, por exemplo.

 

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Quais suas ferramentas favoritas? E softwares?

O Instagram foi o que fez com que eu alcançasse o reconhecimento do meu trabalho, pois foi a partir desse perfil que as pessoas começaram a me chamar para fazer trabalhos e uma coisa foi levando a outra. Tento não postar fotos de mim mesma, sempre crio algo com um propósito específico, uma paleta de cores específica, tudo para ter um visual muito único. Além disso, costumo criar para o YouTube, tenho um portfolio, um blog e uma loja virtual. Essas são as minhas ferramentas de trabalho.

 

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Para criar, faço muita coisa no iPad ou Photoshop no computador mesmo. Nunca uso Illustrator, mas uso InDesign para montar coisas como o meu livro, alguma diagramação de livro e de capa. Quando alguém me pede uma capa, por exemplo, já entrego com tudo montadinho dentro do arquivo aberto de InDesign para a pessoa fazer o que quiser ali dentro.

 

Quais as suas técnicas favoritas?

Eu amo guache e simulo aquarela no computador. É o que mais tenho feito ultimamente, pois gosto do efeito de aquarela. Existem alguns brushes maravilhosos para Photoshop que dá para simular essas técnicas tradicionais.

Em relação ao meu trabalho, tenho uma paleta de cores muito bem definida e o legal de ter essa paleta reduzida é que você é obrigada a pensar em como vai coordenar aquelas cores na hora da criação. Recentemente, fiz um trabalho para a editora Martin Claret e cada capa tem uma paleta de cores específica, baseada nas estações do ano, para criar a atmosfera de cada livro. Então, estou bastante acostumada a trabalhar com uma paleta de cores reduzida.

Outra coisa interessante é que, quando você já tem sua paleta definida, facilita na hora de conseguir trabalhos pois sua identidade já está formada. Comigo, as pessoas já preferem trabalhar com minha paleta mesmo. Fica mais fácil para as pessoas reconhecerem o seu trabalho.

 

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Quais dicas você daria para quem quer começar a ilustrar?

O principal é estudar! Não tem para onde correr… Não existe uma solução fácil e as coisas não vão acontecer do dia para a noite, cliente não vem do dia para a noite. Estude, tenha paciência e publique o seu trabalho nas redes sociais, mostre o seu trabalho, envie email para as pessoas que te interessam. Tenha paciência também com o seu trabalho, os resultados não serão rápidos. Meu trabalho começou a dar frutos em 2018, mas comecei em 2012 a postar com frequência. Dê a cara à tapa e busque também por collabs com outros artistas, pois é algo que ajuda bastante.

 

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Fonte

 

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