Mãe e filha criam editora para lançar livros de autoras brasileiras

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Criada em plena pandemia, em 2020, a editora, além de publicar autores independentes, conta hoje com sete títulos, todos escritos por mulheres, entre os anos de 1801 e 2000, nos formatos físico e digital.

 “Muitas delas já estavam discutindo nessa época assuntos que discutimos atualmente”, diz Carol.

Carol trabalhava em uma editora quando veio a pandemia de covid-19. Ela teve o salário e a carga horária reduzidos. Ao mesmo tempo, a mãe, Ana Maria, desligou-se da empresa onde trabalhava. Com tempo livre disponível e em busca de uma atividade para recompor o orçamento, juntas, fundaram a Janela Amarela Editora. O nome surgiu, inicialmente, por conta da sonoridade. A partir daí, Carol e Ana Maria foram entendendo que combinava tanto a ideia de que pelas janelas entram e saem notícias, ideias e conversas, quanto o amarelo da luz e da energia, que geram criatividade.

“Eu estava lendo muitos clássicos ingleses e me perguntando: ‘Estou lendo as inglesas todas que escreveram por volta de 1800, e cadê as brasileiras? Ninguém escrevia nessa época?”, diz Carol.

Foi a partir desse questionamento que veio a ideia de buscar autoras brasileiras que publicaram nos séculos 19 e 20.

Há 200 anos, o Brasil, recém independente de Portugal, vivia um regime imperial. A escravidão era legal e institucionalizada e assim foi até 1888. No século 19, a gestão do lar e a educação dos filhos cabia às mulheres. Os homens brancos dominavam o mercado de trabalho nas cidades e ocupavam as posições de poder. Segundo a publicação do Senado Federal Escritoras do Brasil, o Censo realizado em 1872, apurou que 23,4% dos homens eram alfabetizados, enquanto 13,4% das mulheres sabiam ler e escrever, sendo que elas eram, praticamente, a metade da população, 48%.

Pesquisa
As obras da Janela Amarela são impressas sob demanda e enviadas para todo o país. Por meio de parcerias, a editora consegue também imprimir obras no exterior, também sob demanda. A divulgação é toda feita na internet e é também pela internet, por meio das redes sociais, que mãe e filha recebem indicações de autoras. Um dos livros da editora, A Divorciada, de Francisca Clotilde, veio de uma indicação no Instagram.

“Uma das leitoras, pelo Instagram, nos falou dela. Foi difícil de achar, porque a edição que encontramos estava incompleta. Ana Amelia Mota, que estuda Francisca Clotilde, que tinha a obra, nos mandou fotos da edição dela e a gente conseguiu completar”, diz. Francisca fazia parte da Academia Cearense de Letras, instituição que segundo Carol, as cumprimentou pela publicação.

Para publicar, a proposta é buscar as primeiras edições das obras selecionadas. E isso, segundo Carol, exige muita pesquisa, muitas visitas a bibliotecas e sebos. Um dos próximos livros a ser publicado é Fantasia, de Cândida Fortes Brandão. Para achar a obra, elas entraram em contato com a prefeitura de Cachoeira do Sul (RS), cidade onde a professora e escritora nasceu e onde encontraram um exemplar no Museu Municipal da cidade.

“Conseguimos descobrir um único exemplar do livro, em péssimo estado, sem capa. Digitalizaram e vão mandar para nós. Têm páginas que estão falhadas. Estamos em contato com eles para mandarem fotos de alguns trechinhos. É assim, trabalho de formiguinha, ir procurando e descobrindo”, diz a editora.

Outro livro, que Carol não revelou qual é, mas garantiu que será publicado em breve, foi encontrado apenas nos Estados Unidos.

Embora os livros escritos por mulheres, no Brasil, tenham ganhado cada vez mais espaço nas estantes das livrarias, levantamentos mostram que elas ainda são minoria no mercado editorial. Levantamento feito sob coordenação da professora Regina Dalcastagnè, da Universidade de Brasília, mostra que entre 1965 e 1979, 17,4% dos autores de romances eram mulheres. Entre 2005 e 2014, essa porcentagem sobe para 29,4%.

 

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