Baunilha (“Xanath”), a lenda da flor escondida

Cássia 11
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Todo mundo conhece a baunilha, mas pouca gente sabe que ela não é só um vidrinho de essência e sim uma lindíssima orquídea. Seu nome científico é Vanilla planifolia e, entre milhares de espécies de orquídeas, é a única cultivada por seu fruto e não por sua flor.

É produzida e adorada há séculos e surgiu nas florestas em volta da pirâmide de Tajil, a capital dos Totonacas, povo pré-hispânico da região do golfo do México, vizinhos dos Astecas.

Lenda

Conta-se que um rei Totonaca teve uma filha de inigualável beleza e sua mãe a colocou a serviço da deusa Tonacayohua, a deusa da colheita e das sementes. A moça, chamada Tzacopontziza, era tão bela que ganhou também do nome de  estrela da manhã.

Um dia saindo do templo para buscar animais que ofereceria a deusa, apareceu em seu caminho o jovem Zkatan-oxga. Eles se enamoraram. Ele já havia visto  Tonacayohua antes e deste então, era apaixonado por ela. Sabendo que  seria degolado por estar apaixonado pela estrela da manhã, a levou através do caminho da montanha.

Porém, pouco tinham andando, um monstro que soltava fogo apareceu no caminho e os fez retroceder, de modo que, acabaram sendo encontrados pelos sacerdotes do templo. Estes furiosos com a fuga do casal degolaram aos dois, depositando seus corpos em oferenda a deusa mas jogando seus corações num barranco.

Todas as plantas no local onde foram jogados os corações dos amantes morreram, muitos imaginaram ser uma maldição pelo que havia ocorrido aos jovens. Porém, pouco depois começou a crescer um arbusto que, de maneira milagrosa em pouco tempo alcançou um tamanho de muitos palmos e ficou coberto de folhagem.

Uma vez que o arbusto chegou no seu tamanho final, ao seu lado começou a brotar uma orquídea trepadeira, a qual foi envolvendo o tronco da árvore, dando a impressão de serem os braços delicados de uma mulher que suavemente abraçava os troncos, parecia protegida pela sombra da árvore. Tal qual uma namorada repousando no peito de seu amado, continuou crescendo enchendo-se de formosas flores.

Estes brotos prodigiosos chamaram a atenção do povo, que juntamente com os sacerdotes concluíram que o sangue dos jovens havia sido transformado no arbusto e na orquídea, assombrando-se todavia mais quando as flores que haviam nascido neste lugar ao amadurecerem desprendia um delicioso e penetrante aroma.

A orquídea foi declarada sagrada, convertendo-se em objeto de culto e constituindo-se como oferenda divina, do sangue da princesa nasceu a baunilha que em Totonaco é chamada  “Xanath” (flor escondida) e em asteca “Tlilxóchitl” (flor negra).

Monumento com a lenda em Papantla, Veracruz.

No século XV, os Astecas invadiram e conquistaram as terras dos Totonacas e tomaram gosto pela baunilha.

Depois vieram os espanhóis e Cortés introduziu a baunilha, junto com o chamado xocoatl (chocolate) aos europeus em 1520. Por parecer uma pequena vaina (vagem em espanhol), foi chamada de Vanilla (vainilla). No ano seguinte, a notícia do exótico perfume chega à Espanha, gerando enorme curiosidade e fazendo com que os Totonacas comecem a produzir baunilha em larga escala e exportar também para Europa.

Códice Florentino (1580) – Primeira ilustração da Baunilha na Europa

Confirmando que a baunilha só poderia ser cultivada nas selvas Totonacas e por seu povo, centenas de pés de baunilha foram roubados e pirateados para diferentes colônias ao redor do mundo. Até produziam flores, mas os frutos não apareciam. Sem os polinizadores específicos de seu habitat mexicano – as abelhas melíponas sem ferrão – as flores murchavam sem frutificar.

Como se não bastasse essa dificuldade, as Vanillas só florescem uma vez ao ano e a flor costuma durar menos de 24h. A “salvação da lavoura” veio de um escravo da colônia francesa em 1841. Edmond Albius, com apenas 12 anos de idade, usou um pedacinho de bambu para polinizar manualmente uma flor e a técnica é tão eficaz que é usada até hoje.

Ficheiro:Edmond Albius.jpgRetrato de Edmond Albius junto das lianas de baunilha em 1863 em ‘Album de l’île de la Réunion de Antoine Roussin.

 

Cultivo

Baunilha ou baunilheira

Para se cultivar a baunilha, as mudas devem ser plantadas em solo fértil e precisam de meia-sombra, com excelente claridade, ambiente tropical onde haja calor e umidade para se desenvolver. Por ser uma trepadeira é necessário plantá-la junto a uma parede ou uma árvore para servir de apoio. Seus frutos, as vagens, possuem cerca de 10 a 25 cm de comprimento e 5 a 15 mm de diâmetro, com diversas sementes.

O plantio normalmente é feito através de muda de baunilha com espaçamento de 1 a 3 metros entre cada e o enraizamento e o início do crescimento demora normalmente de 4 a 6 semanas.

A planta começa a produzir flores somente a partir do quarto ano de cultivo e a colheita das vagens deve ser feita quando estas estão começando a amadurecer. Depois de colhidas, as vagens passam por um processo de secagem e maturação antes de estarem pronto para o consumo, o que é chamado de cura da baunilha.

 

A Baunilha nas artes

O poeta Gonçalves Dias dedicou à planta um poema, escrito em 1861.

A Baunilha
Vês como aquela baunilha
Do tronco rugoso e feio
Da palmeira – em doce enleio

Se prendeu!
Como as raízes meteu
Da úsnea no musgo raro,
Como as folhas – verde-claro –

Espalmou!
Como as bagas pendurou
Lá de cima! como enleva
O rio, o arvoredo, a relva

Nos odores!
Que inspiram falas de amores!
Dá-lhe o tronco – apoio, abrigo.
Dá-lhe ela – perfume amigo,

Graça e olor!
E no consórcio de amor
– Nesse divino existir –
Que os prende, vai-lhes a vida
De uma só seiva nutrida,
Cada vez mais a subir!
Se o verme a raiz lhe ataca,
Se o raio o cimo lhe ofende,
Cai a palmeira, e contudo
Inda a baunilha recende!
Um dia só! _ que mais tarde,
Exausta a fonte do amor,
Também a baunilha perde
Vida, graça, encanto, olor!
Eu sou da palmeira o tronco,
Tu, a baunilha serás!
Se sofro, sofres comigo;
Se morro – virás atrás!
Ai! que por isso, querida,
Tenho aprendido a sofrer!
Porque sei que a minha vida
É também o teu viver.

 

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